sexta-feira, 11 de abril de 2014

TDAH - Estará a Escola preparada para a Inclusão? Uma Maquete sobre Valores e a Inflexibilidade do Professor



O que poderia ter sido uma experiência maravilhosa para a formação do pequeno cidadão, tornou-se um pesadelo!

TDAH - Estará a Escola preparada para a Inclusão? Uma Maquete sobre Valores e a Inflexibilidade do Professor 


Por Marise Jalowitzki
10.abril.2014
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2014/04/tdah-estara-escola-preparada-para.html

O que era para ser uma vivência prazerosa transformou-se em dissabor e frustração. O mais perverso de todo este episódio é: O QUE FICOU GRAVADO NA MENTE DA PEQUENA CRIANÇA, UM SER EM FORMAÇÃO? O CONTEÚDO que foi repassado: VALORES! Um tema que ajuda a definir e alicerçar a visão individual de mundo e sociedade!

Ao visitar escolas, é comum ouvir de vários professores estas frases:
"A sociedade mudou!"
"Os pais já não querem educar seus filhos!"
"Os pais querem jogar sobre os ombros da escola a responsabilidade de criar, que é deles!"
"Os pais já não querem mais saber de ser pais."

.. Sim, isso também acontece! Mas, e nas situações onde os pais são zelosos, preocupados, auxiliativos? Seguem as orientações recebidas, procuram os especialistas, tomam as providências? E se, ao final de tudo isso, são desconsiderados, como fica a relação com a Escola? A necessária parceria?

Como os pais são acolhidos em suas argumentações e reivindicações? 
Falo sempre desta necessária parceria que deve haver entre escola (como instituição preparatória) e pais (como núcleo-base da formação do pequeno). Por vezes, pais responsáveis, preocupados em conduzir uma situação-problema de uma forma produtiva, o menos traumática possível, acabam igual esbarrando na incompreensão da instituição educacional. Aí, os pais ficam sem norte, em um verdadeiro beco sem saída.

O caso relatado por mais uma mãe angustiada, envolve um garoto já diagnosticado com os sintomas tidos como déficit de atenção. O laudo já foi entregue à orientadora no ano anterior. Inicialmente tomou ritalina, em casa ficou meio aéreo e, na escola, bastante sonolento, conforme relato da professora à mãe. Em comum acordo com a psicóloga, os pais optaram por interromper o uso do metilfenidato, continuando com a terapia, fato que foi comunicado à orientadora educacional.

A situação envolve uma maquete, utilizada para trabalhar o conteúdo RESPONSABILIDADE, dentro do leque de VALORES! Olha a ironia! O QUE O MENINO VAI GRAVAR COMO VALORES E RESPONSABILIDADE diante do episódio vivido?



(Transcrevo a mensagem recebida. A pedido dos pais, mantemos o sigilo dos nomes e da escola)

"Sexta-feira passamos por uma situação muito constrangedora na escola onde meu filho estuda. 

Em meados de novembro passado fomos chamados pela coordenadora para que averiguássemos junto aos profissionais da saúde se meu filho era portador de déficit de atenção. Levamos ao pediatra, neuropediatra e psicólogo. Ficou constatado que sim. Começou então o tratamento semanal com a psicóloga e decidimos fazer o uso do metilfenidato por um tempo, para observar como ele reagiria. Notamos que em casa ele ficou meio que "passado" e na escola a professora queixou que ele apresentava sonolência. Decidimos então suspender a medicação e ajudá-lo no que fosse preciso com outros paliativos. A coordenadora da escola tomou conhecimento dessa nossa decisão. 

Acontece que a professora, que por sinal é a mesma do ano anterior (e, portanto, sabedora do déficit de atenção!), resolveu trabalhar o tema VALORES na escola. E para trabalhar o tema RESPONSABILIDADE optou por combinar com a turma a entrega de uma maquete numa data especifica (03/04) improrrogavelmente. Para a mesma semana outra professora também agendou a entrega de uma outra maquete. Meu filho conseguiu concluir as duas atividades com uma semana de antecedência e ficou aguardando o período estabelecido para fazer a entrega das mesmas. Acabou que ele confundiu a data e não entregou a maquete que estava trabalhando o tema Responsabilidade. Dirigi-me à coordenadora solicitando que conversasse com a professora, afim de considerar a particularidade do meu filho. A resposta que obtive foi a seguinte: 

"- Não posso interferir no trabalho realizado pela professora, leve de volta a maquete e posso agendar para que converse com ela". 

Questionei então o que seria RESPONSABILIDADE para a escola, visto que ele concluiu a atividade a tempo e não entregou devido a um lapso que poderia acontecer com qualquer um, ainda mais ele, com a limitação dele. Não estava ali solicitando privilégio para ele, mas que levasse em consideração a situação. Prontamente a coordenadora insinuou que era um ato irresponsável, inclusive dos pais, por ter acesso à agenda escolar. Mais uma vez questionei o que é 'responsabilidade' para a escola, visto que ela também não informou aos outros professores o caso dele, foi preciso eu me dirigir. A coordenadora finalizou o discurso dizendo que precisava de um novo laudo! Sendo que no final do ano anterior o laudo foi entregue e o aluno é o mesmo.!!! Senti-me impotente por não conseguir ajudar meu filho. Como assim? E o trabalho que ele se dedicou em realizar? Quem tem um filho com estas funcionalidades sabe o quê significa eles concluírem uma atividade, um ano letivo,... Não tive coragem de contar o que aconteceu com o trabalho para ele. Neguei-me a trazer a maquete de volta para casa, pois não quero ver a frustração em seus olhos,... de um trabalho que ele fez e que a escola insiste em dizer que ele fracassou!!

Estou inconformada. A quem recorrer? Não faço questão dos pontos que valem o trabalho. Sei que meu filho tem potencial para recuperar. Estou inconformada com a atitude de intolerância das ditas educadoras."


Valores da Escola, Valores Sociais
A situação não deixa de surpreender, embora não seja a primeira vez que ouço relatos assim!!!! Lembrei de cara de uma mamãe muito próxima, em igual situação de desconserto, frustração e indignação!!! A mesma coisa! Uma maquete e uma data passada!

Terrível constatar como tantos educadores estão frágeis em resolver situações inusitadas, mas de fácil resolução! Má vontade? Falta de compaixão? Inflexibilidade? O menino fez a sua parte. Se a professora tivesse uma visão de EDUCAÇÃO PARA TODA A VIDA, veria que estava em uma situação que ia bem além de nota, avaliação, entregar um tema! Entenderia, com o coração, que se tratava de um momento em que ela mesma estava sendo testada sobre o que considera como valores, sobre o que é Responsabilidade. Responsabilidade engloba apenas entregar no prazo? No caso do aluno, 'Responsabilidade ' tem a ver também com o dispor-se a realizar a tarefa, com construir, com finalizar a proposta!!! Todas estas etapas ficaram no vácuo! Apenas a data da entrega foi considerada como ponto de avaliação! Mesmo com toda a explicação e empenho da mãe! E, ainda mais, tratando-se de um menino que está recebendo acompanhamento de especialista!!

Tal inflexibilidade é abusiva mesmo para quem não apresenta nenhuma desatenção!!!


A exposição do menino

Embora o primeiro sentimento seja de frustração e indignação, dói a exposição a que o menino está sujeito! E o desafio dessa mãe, tendo de lidar com a incompreensão e a inflexibilidade de quem deveria entender e acolher os pequenos sob sua responsabilidade! 

E mais: ela, mãe, tem de atentar para a maneira como vai passar toda esta informação para seu filhote, cuidando para não deixá-lo se sentindo um excluído e, ao mesmo tempo, cuidando para não plantar nele um grande ressentimento em relação à escola e professores. Coisa que, mais tarde, pode se refletir em relação à sociedade.

A situação é delicada. Claro que o sentir-se protegido pela mãe atuante, que acredita em seu filho e batalha por ele, é tudo o que o menino precisa neste momento de impasse. Ele fez o trabalho. Até ali era o principal exigido para ele. Um esquecimento faz parte da vida de todos, não apenas daqueles que são tão facilmente rotulados.

Receber uma nota baixa, ser desconsiderado, ser considerado injustamente é uma situação pela qual ele vai passar mais vezes em sua vida futura. Saber que é preciso enfrentar isso, apesar de, algumas vezes, não ganhar a batalha, é prepará-lo para as situações menos louváveis que este mundão tem (e às pampas!).


Trocar de Escola

A possibilidade de trocar de escola é sempre passível de avaliação, dependendo do nível de incompreensão que o aluno recebe. Muitas vezes as mães insistem muito, sei de mamães que levaram "com a barriga" a situação por anos, pois o colégio era particular e queriam "dar uma melhor educação" ao filhote. Algumas tiraram seus filhos de determinada instituição apenas ao término do primeiro grau. Respeito. Eu não teria esperado tanto.

Um procurador de SP sempre alerta para a convivência ruim a que o filho fica exposto em tais situações de impasse, já que ele é sempre a maior vítima. Quando uma situação já conta com uma posição indevida da direção, seja pela causa que for (desconhecimento ou má vontade), fica mais difícil para o pequeno, que tem de ficar horas e horas debaixo daquelas condições exclusivas.

Os pais deste menino decidem lutar.

"Realmente. Estou angustiada e provavelmente não conseguirei me calar diante desses fatos. Vou procurar meus direitos. A escola também é particular. Infelizmente aqui no Brasil é assim. Hoje foi meu filho, tiro de lá e amanhã é com o do outro. Não existe nenhum órgão a que posso recorrer?" - pergunta a mãe.



Se a professora tivesse uma visão de EDUCAÇÃO PARA TODA A VIDA, veria que estava em uma situação que ia bem além de nota, avaliação, entregar um tema!


A quem recorrer? Quais são as instâncias de Ajuda?

Estas orientações servem para outros casos, também. 

- A primeira pessoa a ser consultada é a psicóloga que já vem acompanhando o menino, onde a mãe vai levar a sua apreensão e indignação. A especialista pode fazer uma intervenção na escola, exigindo melhores cuidados.

- Laudo em mãos, além da orientadora educacional, a direção. 

- Não resolvendo, a Secretaria de Educação poderá ser acionada. Mesmo sendo uma instituição privada, é ligada ao MEC! Provavelmente a primeira coisa que vão perguntar é se o filho está "sendo medicado". Para atender esta demanda, caso não queiram medicar com tarja preta, a homeopatia apresenta boas alternativas. Mais do que ninguém, os pais pais precisam usar de sua intuição e decisão, se o que está acontecendo tem a ver, realmente, com problemas de déficit de atenção ou se a criança está apenas sendo minada na sua autoconfiança!

- Em maior instância, é possível procurar o Conselho Tutelar e pedir uma intervenção na escola. Eles podem fazê-lo. E, por vezes, estão abalizados para lidar com o tema.

- Por fim, o Disque 100. Há órgãos que realizam intervenções importantes na defesa da Criança e do Adolescente.



"Muito obrigada pelos esclarecimentos!"

Se mais mães fizessem assim, muita coisa iria mudar! O que não dá é ficar passivo frente a todo este despreparo!


O DAY-AFTER

A mãe torna a contatar:
"A escola "resolveu" avaliar a maquete do meu filho. E pra minha surpresa atribuíram o mesmo valor das que foram entregues no dia estipulado. Fico triste, porque percebo que o posicionamento anterior era de prejudicá-lo. Veja o que a professora fez ele escrever na agenda:"



Agora, Amigos, olha o teor cerceador deste bilhete que a professora obrigou o menino a escrever em sua própria agenda! Despersonalização! Ele escreve sobre ele mesmo, chamando-se de "ele" - ele esqueceu - ele pensou que fosse...- que didática de impessoalidade é essa? E, mesmo tendo afirmado aos pais que ele teria a nota considerada como se tivesse entregue no dia, na agenda consta  "5,0 pontos perdidos. Terá que tirar 10 na avaliação"! Cruel!




Continua a mãe:

"Um absurdo!

Mesmo assim, hoje o pai informou o ocorrido à psicóloga e na próxima semana estarei conversando com ela para ver a melhor forma de intervir na escola. Estarei providenciando novamente um novo laudo para não dar margem de que fomos omissos em não comunicar a instituição sobre o TDAH. Lembrando que já levamos um em novembro passado.  

Se não houver melhoras nos serviços prestados, iremos apelar para o conselho tutelar, secretaria de educação, direitos humanos..."


Pais presentes da Escola é premissa de qualidade e efetividade.


"Chegamos à conclusão que a inclusão é um fato recente nas escolas do Brasil e elas estão despreparadas para receber estes alunos. E como pais devemos estar cobrando melhorias nesse sentido. Não adianta ficar pulando de escola em escola, arriscando encontrar outras até piores, porque o maior prejudicado será o aluno mesmo."


O que continua valendo é apenas a nota, a avaliação!

A mãe lembra ainda que a escola vai proporcionar uma palestra com uma especialista em psicologia escolar e em neuropsicologia para os pais aprenderem a lidar com os desafios que representam os comportamentos dos filhos. E QUEM ESTÁ PREPARANDO OS EDUCADORES PARA LIDAR COM OS DESAFIOS DOS EDUCANDOS? "Vou aproveitar a ocasião que outros pais estarão reunidos e indagar o que a escola tem feito pela capacitação dos profissionais que lá atuam, mas sem expor o caso do meu filho." - conclui.


Estamos na torcida!







Perguntas:

1) O que você acha que deveria ter acontecido frente à situação inicial?
2) A inflexibilidade da professora e da orientadora é justificável?
3) Como você acredita que o menino está internalizando tudo isso?
4) O que a criança vai "aprender" em relação a VALORES e RESPONSABILIDADE?
5) Como você definiria Responsabilidade dos adultos em relação à formação de uma criança ou adolescente?
6) Qual a diferença entre discurso (conteúdo) e prática (aprendizagem)?



Trabalhando valores humanos - sugestão de atividade

"O aprendizado de valores: base para a formação do cidadão."

Alguns Valores a serem trabalhados:
AMIZADE – COOPERAÇÃO – RESPEITO – RESPONSABILIDADE – DISCIPLINA – COMPAIXÃO - HONESTIDADE – PACIÊNCIA – DEDICAÇÃO – PARTILHA – COMPANHEIRISMO

(A vivência a seguir consta das págs.223 e 224 do Livro TDAH Crianças que Desafiam e pode ser facilmente adaptada para qualquer faixa etária)
ANJINHO
MEU COMPROMISSO COMIGO MESMO(A)
Objetivos:
>    Estabelecer vínculos após o término de encontros
>    Promover metas individuais
>    Proporcionar reflexões
>    Implementar melhorias
>    Introduzir a prática de cuidadores
Tempo estimado:
20min
Desenvolvimento:
1° Momento
Os participantes são convidados a encontrar uma posição confortável. Podem ser diminuídas as luzes do recinto e colocada música suave. Após rápida indução de relaxamento, o facilitador vai fazendo uma retrospectiva de todo o dia de atividades, percor­rendo desde o início, quando se encontraram, nominando as vivências e determinadas ocorrências, até essa hora do término. Enfatiza que o objetivo maior do trabalho é de que todos cresçam e se desenvolvam. Para isso, pede que cada um pense em um item, um tópico dos que foram abordados, que gostaria de trabalhar em si. Algum ponto que querem melhorar em suas atitudes no dia-a-dia e que sabem que, se melhorassem, iria facilitar a convivência no grupo. Dá um tempinho, em silêncio, para que reflitam, trazen­do-os, após, à postura normal.
2° Momento
O facilitador pede que declarem qual a sua intenção de melhoria. Isso poderá ser feito falando (e o facilitador vai escrevendo no flipchart), ou cada um escreve no flip o ponto a ser trabalhado. A seguir, o facilitador solicita que todos escrevam seu nome em um papel e passa um saco recolhendo-os; redistribui a seguir, pedindo que verifiquem se não tiraram seu próprio nome. 
Anuncia que, a partir de agora, cada um se tornou o Anjo-da­-Guarda daquele cujo nome tem nas mãos e que o Anjo tem como incumbência dar bons conselhos, motivar, animar o "Abençoado" para que ele possa cumprir aquilo que se propôs a trabalhar em si. Marca uma data em que os Anjos se revelarão. Até lá, serão secretos.
Comentários:
A atividade é muito bem aceita e, em trabalhos continuados, traz resultados muito motivadores e de crescimento.






Marise Jalowitzki
Compromisso Consciente

Escritora, Educadora, 
Idealizadora e Coordenadora do Curso Formação para Coordenadores em Jogos e Vivências para Dinâmica de Grupos,
Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela FGV,
Facilitadora de Grupos em Desenvolvimento Humano,
Ambientalista de coração, Vegana.
Certificada como International Speaker pelo IFTDO-VA-USA
marisejalowitzki@gmail.com 
compromissoconsciente@gmail.com 



Livro: TDAH Crianças que desafiam 
Como Lidar com o Déficit de Atenção e a Hiperatividade na Escola e na Família
Contra o uso indiscriminado de metilfenidato - Ritalina, Ritalina LA, Concerta

Acesse: http://tdahcriancasquedesafiam.blogspot.com.br/
TDAH Crianças que Desafiam - Como Lidar com o Déficit de Atenção e a Hiperatividade na Escola e na Família

TDAH: Crianças que Desafiam



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