sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Situações conflituosas - Segurança no Trabalho - Eu tenho família - Qual a função do mestre de obras

Inversão da pirâmide - Quando o trabalhador é quem pleiteia segurança!!



Por Marise Jalowitzki
30.setembro.2016
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2016/09/seguranca-no-trabalho-eu-tenho-familia.html

Hoje venho comentar sobre um tema que aborda a questão da Segurança no Trabalho. Nesta obra que observo, todos os equipamentos estão sendo devidamente utilizados pelos trabalhadores. A questão é a colocação dos andaimes e a devida segurança destes, protegendo a vida do operário em obras.

Minha primeira questão é: Quem supervisiona o Mestre de Obras em uma reforma e-ou construção?
Ao pesquisar sobre, encontrei a descrição sumária das responsabilidades deste profissional, mas nada a respeito de quem monitora as atividades dele, especialmente no que se refere ao trato para com os empregados que estão sob sua supervisão. (Deixo ao final a transcrição da Relação de Ações cuja responsabilidade é de um Mestre de Obras, segundo o Departamento Regional de Recursos Humanos.)

Dos 12 itens ali elencados como sendo de responsabilidade de um mesre de obras, dois se referem às condições oferecidas ao trabalhador em obras.

9.      Examinar segurança dos locais e equipamentos da obra.

10.  Monitorar o cumprimento das normas de segurança do trabalho.

Não há alusão a ouvir queixas, discussão sobre condições de segurança. A quem pode se dirigir o "peão de obras" quando precisa de alguma providência urgente? É ali, na hora, que a coisa acontece!


Em pouco mais de uma semana, ouvi 3 grandes episódios de discussão de problemas, em uma reforma de prédio! Pode isso? O Mestre de Obras no chão, no terreo, discutindo com o Operário, em 5º andar. Tudo "nos conformes", a negociação sem alterações de voz, mas, e a segurança de quem está lá em cima pendurado? Como fica o emocional dele, especialmente quando fica pleiteando sobre a segurança de sua vida?
E qual foi o motivo, nos 3 episódios? O EMPREGADO requereu mais segurança junto ao mestre de obras. Incrível! Sempre que se ouve sobre um acidente fatal (e, desta altura, sempre serão fatais...) escutamos do mestre de obras a declaração que "os empregados (ou a "peonada" como ainda dizem alguns, referindo-se ao profissional como um peão *) é que resistem às ordens de uso do EPI - Equipamento de Proteção Individual", não é mesmo? Pois é exatamente o oposto que está ocorrendo nesta obra!! Aqui, eles usam o equipamento completo (exceto, em muitos casos, a luva), mas o requerido é em relação à torre-andaime. Aqui, é o empregado que tem de pleitear mais segurança em seu dia a dia! (* peão - aquele que execta tarefas e é ordenado por um patrão)

Por isso, creio ser meu compromisso moral escrever este artigo. E espero sinceramente que seja lido pelas pessoas responsáveis por providencias efetivas, a quem estou dando conhecimento desta escrita e que estão tendo a oportunidade de conhecer este texto. Por enquanto não coloco endereço nem o nome da empresa responsável. Mas já dei conhecimento aos responsáveis em questão.




Quando a obra (pintura externa) chegou em meu andar, a primeira surpresa foi perceber que a estrutura metálica (andaimes) - que depois recebe umas tábuas onde os empregados ficam sobre -, estava presa às grades das sacadas por um fio metálico, um arame, apenas isso! E as grades - fato sobejamente conhecido pelos moradores e intuído pelos empregados - estava em muitos lugares meio solta, não oferecendo segurança. Ou seja, o arame (mesmo que fosse  bastante resistente...) não adiantaria igual. O ideal seria arrimar-sustentar-amparar com cordas ou corrente lá em cima, no topo do edifício.


Isto foi devidamente observado pela empresa que executa o serviço antes de iniciar a obra?

!º episódio - Empregado tem de pleitear que mais uma das torres metálicas (andaimes) seja colocada entre uma sacada e outra, para que ele possa pintar, apoiado sobre uma das tábuas-andaime! O mestre de obras, do chão, ordena que ele pinte apoiado apenas sobre a tábua, sustentado apenas pelas cordas! O empregado pleiteia em voz alta:
- Pôe o andaime, chefe! Eu tenho família!
Repetidas e repetidas vezes esta frase é entoada como um mantra. O mestre de obras insistindo para que ele vá apenas pendurado! Inaudito! O empregado repete:
- Eu tenho família! Se eu fosse um cara à toa, tudo bem! Mas eu tenho família!
Os colegas intervêm:
- Fulano (não vou citar o nome, por enquanto) , manda uma torre pra cá. O cara tem razão!
E, lá embaixo, a voz do "mestre":
- Não precisa! Já disse.
Segue-se um diálogo inaudito:
- Ele quer me matar! (o operário diz, em tom de riso)... Ele quer que eu morra. Mas eu tenho família!
- Põe lá, O...! (fala outro operário, dirigindo-se ao mestre de obras)
- Não custa nada!
E mais outro colega intervêm;
- Fosse eu, eu até ía! Eu sou sô, mas o cara tem família!
E o "peão-alvo":
- Ele quer me matar! (continua o tom de riso, mas a situação não o convence a ir assim mesmo...não vai...impasse)
Nos primeiros minutos não veio resposta positiva lá de baixo (!!!) e o operário até tentou ir assim mesmo. O colega dele, falando baixo: "Cuidado! Não vai escorregar!"
E continuaram os pleiteamentos em voz alterada até que, uns 5 minutos depois, ouviu-se o barulho da estrutura sendo arrastada ao local solicitado.

Isto não poderia acontecer! Um líder de grupo, como o Mestre de Obras tem de ser, e é, neste momento, tem de, primeiramente, prever. Depois, proporcionar, dentro da sua visão, o melhor ambiente, o mais seguro, para seus empregados. E tem, em terceira instância, de estar sensível ao que lhe trazem! Se o profissional se sentia inseguro, no que era apoiado pelos demais, porque criar conflito? COMO FICA O EMOCIONAL DE UM EMPREGADO após uma discussão assim, em plena atividade?

Não sei se houve discussão posterior, o fato é que  nos dias seguintes apareceram cordas grossas segurando as estruturas metálicas às grades e entre essas e algumas das tábuas.


2º episódio que abala a moral do trabalhador em obras
Sabemos o quanto este é um trabalho duro, extenuante e de como mina as forças diariamente, necessitando de uma alimentação forte e nutritiva e o mais apetitosa possível. Teve um dia em que o micro ondas estragou e não deu para aquecer as refeições. Uma hora antes o assunto já estava sendo ventilado. Os trabalhadores tiveram de ingerir o alimento frio! Muitos deles não quiseram acreditar e o fato foi, novamente, abertamente comentado, como "vida de bóia fria".., Faltou planejamento, faltou supervisão, faltaram providencias imediatas! Como um vale refeição de emergencia!

A alegação que costumamos ouvir é que o empregado se nega a usar o EPI. Aqui não é o caso.
Outras queixas e ocorrências:
Também detalhes como a falta de uma vassoura para varrer e juntar os pedaços de cimento-reboco que retiraram para dar um reboco renovado às paredes danificadas. Eles pediram e a resposta foi:
- Não tenho!
Tive de emprestar a minha.
Olha o que reza o item 8 que, creio, deva se referir também à retirada dos resíduos
"8.      Controlar resíduos e desperdícios" 


      Pedido de escada -  falta de uma escada para que não precisassem pular (de fora para dentro e de dentro para fora) pelas grades do terraço... são pessoas quase todas com peso (claro, pra aguentar este trabalho braçal), sendo desafiados cotidianamente.

Pedido de pincel - "- Chefe, tem de trocar estes pincéis! Estes pincéis tão gastos, fica ruim pra pintar!..."
"6.      Supervisionar o controle do estoque de materiais, equipamentos, ferramentas e instrumental necessários à realização do trabalho."

3º episódio - novamente a questão de segurança
Para alcançar o último andar (não posso dizer se aconteceu em outros andares, pois não observei) os empregados tem de se apoiar em seus próprios braços e se erguer, para subir (pode isso?) e dar um pequeno salto (pode isso?) para descer!
A nova discussão, aconteceu por situação idêntica ao episódio 1, quase uma semana após, para realizar umas pinturas tipo "arremate".
Ao final, o trabalhador repetindo (sempre em tom amigável):
- Eu tenho família, chefe!
- Tu é um cabeça dura!
- Eu tenho família! Eu tenho família!

Particularmente creio que uma situação em que está em risco a vida deve ser sempre levada em conta, antes mesmo de que se faça necessária a intervenção. E, caso não tenha sido devidamente planejada anteriormente, que seja imediatamente acatada pelo mestre de obras, o que mostra que ele tem um papel de zelar pelos homens que estão subordinados a ele neste trabalho e não iniciar diálogos que mais parecem "disputas de poder", perdendo o foco que é a Segurança no Trabalho.

Por mais Relações Humanas no Trabalho! Por mais Segurança no Trabalho!


FUNÇÃO: Mestre de Obras

                       

Descrição sumária


Analisam documentação técnica e gerenciam recursos humanos e materiais, atendendo padrões de qualidade da obra.

Descrição detalhada


1.      Analisar e discutir com o superior instruções técnicas do projeto a ser desenvolvido.

2.      Interpretar plantas, gráficos e escalas.

3.      Orientar e acompanhar a equipe quanto à execução dos trabalhos cumprindo o cronograma.

4.      Coordenar a  instalação e utilização de equipamentos e estruturas construtivas em canteiros de obra.

5.      Participar da instalação do canteiro de obrasdemarcando a obra, conforme projeto.

6.      Supervisionar o controle do estoque de materiais, equipamentos, ferramentas e instrumental necessários à realização do trabalho.

7.      Controlar a qualidade e quantidade do trabalho realizado.

8.      Controlar resíduos e desperdícios.

9.      Examinar segurança dos locais e equipamentos da obra.

10.  Monitorar o cumprimento das normas de segurança do trabalho.

11.  Executar tarefas pertinentes à área de atuação, utilizando-se de equipamentos  e programas de informática.

12.  Executar outras tarefas para o desenvolvimento das atividades do setor, inerentes à sua função.
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Requisitos:

Experiência:                     2 (dois) anos                    

Jornada Semanal:           40 horas.


Sepultado pedreiro que caiu de andaime em Passos-MG



Em final de outubro, registro:
Com muita satisfação, alguns dias após o ocorrido, ouvi uma conversa de forma terceirizada, do mestre de obras elogiando seus trabalhadores e, maior satisfação ainda foi ver o empregado em causa, uma semana após, em plena atividade nas obras do edifício.
Felicidades a todos!






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