domingo, 24 de maio de 2015

E quando os pais são agressivos com os filhos? O que a escola pode fazer?








Por Marise Jalowitzki
24.maio.2015
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2015/05/e-quando-os-pais-sao-agressivos-com-os.html

Amig@s, peço que leiam o que segue e ajudem com suas opiniões. Como digo sempre, reitero muitas e muitas vezes a melhoria na postura e intervenção escolar. E nunca deixei de mencionar que, também, o inverso acontece. A escola querer intervir junto a pais punidores e estes (pais) se negarem a ouvir o que a escola tem pra dizer.

Conheço um caso desses em particular, um amigo que dizia:
- Eu já trabalho o dia inteiro pra sustentar. Temos três. Os outros dois não dão trabalho. Por que a escola não faz o que precisa fazer?
Falamos várias vezes a respeito. Eu sempre argumentando que a família tem de fazer a sua parte (que ele entendia como sustentar financeiramente) e que tudo iria melhorar quando acontecesse uma parceria entre pais e professores, planejando em conjunto ações de melhoria. Ele não quis ouvir. Emprestei o Livro TDAH Crianças que Desafiam e pedi que desse uma olhada, pois o que eu estava dizendo não era invencionice. Depois disso, não olha mais na minha cara!...


Ontem recebi este apelo que precisa de mais opiniões e sugestões. Vamos ajudar esta professora guerreira?

“Marise. Bom dia!!! Venho a 4 meses acompanhando sua página para respostas do meu trabalho. Sou psicopedagoga, orientadora educacional e professora de Educação Infantil. Esta última (trabalhar com crianças pequenas) amo por demais!!!

Em meados de 2014, uma professora não conseguia direcionar a turma dos pequenos e foi afastada. Desde lá, estou lecionando no lugar dela. É uma turma de 16 alunos, agitados e dentro dela um autista e um com TDAH.

O motivo do meu contato é solicitar ajuda de como trabalhar com pais de outro menino, de 5 anos, que, suspeito, também seja autista, por todas as características que apresenta. Os pais estão omissos, agressivos, os filhos (2) apanham de chicote e cinto! E os pais não aceitam fazer qualquer diagnóstico para ajudar este menino. Já estão se colocando contra a Escola, me ofendem nas reuniões e não buscam solucionar e ajudar esta criança.
E o menino vem até mim e me pede Socorro! Mas sem ajuda da família não teremos retorno apenas com meu trabalho. Ele tem 5 anos. Os pais querem que saia da escola lendo e escrevendo e me culpam por não ajudá-lo.

Sobre a possibilidade de autismo, ainda nem falei nada com eles, pois é um parecer meu que precisa ser comprovado pelo neuropediatra. Mas, pedi que levassem o filho ao especialista e eles se negam. O pai fala que é falta de limite. Ontem, em um momento de lazer, fora da Escola, em um encontro de pais e filhos, a criança, ao me abraçar me pediu socorro. O que posso fazer por ele? Agradeço imensamente sua acolhida e gratidão.”

Situação delicada, amiga. E que precisa ser desmembrada em mais de um enfoque.
1)    A questão da agressão física infantil, coisa que já temos legislação para denunciar e sustar. Crime!
2)    A expectativa paterna, que está rígida por demais. Querer que uma criança com 5 anos, necessariamente, esteja alfabetizada.
3)    A necessária intervenção escolar em eventos não direcionados, a fim de tentar esclarecer (e sossegar) os pais.


Então, pela ordem dessas questões:

1 – Agressão Física e Conselho Tutelar

Omitir-se, nunca. Confrontar os pais, também não. Só vai expor mais a criança envolvida, que vai ficar ainda mais vulnerável frente às agressões. 

Denunciar. Esta é a primeira providência, até para evitar coisas piores. 
Se a criança já pediu socorro é hora de tentar sustar tais procedimentos.
Para isto, é possível utilizar o Disque 100 para que o Conselho Tutelar chame os pais e converse, tentando irrigar mais calma e tolerância.
Sabemos o quanto os Conselheiros Tutelares também estão expostos nesta situação, pois são moradores da mesma comunidade em que atuam! 
Recentemente o Fantástico denunciou o número de Conselheiros que, simplesmente, são assassinados ou recebem agressão físico ou ameaças devido às suas intervenções, tentando salvaguardar a idoneidade dos pequenos!
Lembra, amiga, que a denúncia pode ser anônima e teu nome será preservado. Podes dizer que és professora da escola, mas, ratifica o pedido de sigilo.

2 e 3 – Papel da Escola na Construção da Parceria com os Pais

Constato, neste caso, além da rudeza dos pais (imperdoável! – mas, provavelmente, foram os métodos que também foram usados com eles), um grande medo (ou preconceito, que acaba sendo a mesma coisa) de ter de admitir que o filho tem um problema de aprendizagem. Teria de ser visto, sendo possível, desde quando ele apresenta este comportamento, se ele acontece só na escola, saber como ele é em casa. Isto, como és tu a gestora, podes envolver a diretora, para que estes pais consigam escutar.

Caso este comportamento (de comportamento diferente da criança) aconteça tanto em casa como na escola, vai ficar mais fácil construir, em conjunto com a família, um Quadro de Acordos. 
Como estás acompanhando há vários meses o blog e o grupo, deves ter conhecimento dele. Saiu um artigo Quadro de Acordos – Tarefas, Perdas e Recompensas. 
Esta é uma atividade que pode se tornar a ponte de acesso entre escola e pais, avaliando periodicamente como as coisas evoluem. Engajamento que precisa ser conquistado devagar, sem acusações.


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Exemplo de Quadro de Acordos









TDAH e Acordos - Quadro de Tarefas, Perdas e Recompensas















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Como sabemos, a escola não pode pressionar para que os pais procurem um neurologista (neuropediatra), mas pode sugerir uma psicóloga humanista-cognitivo-comportamental (que leva em conta a história da criança e, conjuntamente, vai conduzindo para os comportamentos esperados.

Há muitos pais que tem pavor de levar a um neuro ou psiquiatra, pois “é entrar no consultório e sair com uma receita e nós não queremos medicar” – dizem. Não deixam de ter, quase sempre, razão. Ainda assim, bem importante ter o dagnóstico do neuropediatra. Com relação ao uso de medicação, caso seja relevante, a escola pode sugerir a visita a um homeopata, que vai indicar medicação bem menos invasiva do que psicotrópicos (tarja preta).

O que precisas desenvolver é uma atitude de isenção de tua parte, não entrando em discussão com os pais nas reuniões de pais e mestres. Brigas, acusações e discussões é o que geralmente acontece, em todo Brasil!!
Também, é preciso ajudar para que eles - mesmo estando errados - não se sintam “maus pais”!

A Escola precisa promover muitas palestras curtas, por ocasião das próprias reuniões de pais e mestres, com profissionais que falem uma linguagem clara e objetiva, sem “psicologueses”, e que se disponham a estabelecer um bate-papo (pergunta-resposta), com Humildade e Amor, sem medo de dizer: “O que eu não souber, vamos procurar juntos! Nosso objetivo comum é ajudar as crianças!”

E distribuir pequenos panfletos elucidativos, dando dicas de alimentação balanceada - retirar o mais possível os industrializados, evitar corantes e conservantes, evitar refris, evitar carnes, leite, ovos, pouco farináceo, uma dieta o mais possível livre de toxinas – atualmente, praticamente tudo tem venenos!

Enfim, tenta este viés. Trazer pelo lado do cuidado. Do zelo. De uma ação conjunta.

Com relação ao pequeno, bem importante que destines a ele o carinho que possas dedicar, mas, evitando entrar em conversas mais de foro íntimo, pois isto gera um caminho bastante dúbio, que pode te fragilizar. Como é que o pequeno te pediu socorro? O que vocês já conversaram a respeito?
E, além do mais, os pais, caso sejam efetivamente "duros" podem simplesmente dizer que é mentira (tua ou da criança), deixando o cenário ainda mais obscuro.

Assim que a escola consegue abrir uma brecha para o diálogo valoroso pode proporcionar 'sessões de cinema' no sentido de abrir os olhos. Sem agressões, sem direcionamentos. E, após, discutir sobre. Ou pode, também, sugerir aos pais que assistam filmes sobre situações de crianças sensíveis, que pareciam ser apenas teimosas ou desinteressadas e, no entanto, o que acontecia era um entendimento diferenciado da realidade. Um filme bem legal, por exemplo, chama-se “Como Estrelas na Terra” – também no youtube com o nome de “Somos todos diferentes” (https://www.youtube.com/watch?v=fK09tpyvEr4 ).

Somos Todos Diferentes ou Como Estrelas no Céu é um filme primoroso, produção indiana, que mostra o quanto o desconhecimento pode tornar incompreensível a relação familiar.
Enfim, todas as tentativas de melhoria são válidas. A primeira intervenção, lembra, tem de ser a de denunciar a agressão física.

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Querendo, leia:

Por Marise Jalowitzki

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Desejo Sucesso Amplo!
Vai mandando notícias.

Beijos


Infelizmente, as agressões a menores, como tem sido amplamente divulgado, parecem não ter fim! 
Temos de nos empenhar para que isto se erradique! Perder o medo é providência base!!
O primeiro passo, na vida de todos nós, é romper os grilhôes do medo! Nas primeiras vezes, "parece que já vão nos pegar", até pedimos socorro a alguns. Com o tempo, vemos que o medo nos acompanha, mas fica metamorfoseado. "Vai com medo, mas vai!" 
Quando nos cercamos de informações, da legislação, de auxílios fidedignos, as coisas começam a se modificar pra melhor.

 Marise Jalowitzki é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano saudável. marisejalowitzki@gmail.com 

blogs:

Alguns dos comentários-reforço recebidos:

I comenta: Tenho um filho autista e na escola dele tenho visto 3 crianças piores que meu filho e com pais omissos. Com uma mãe a escola conversou e depois dessa conversa não vi o menino mais na escola. Espero que ela apenas esteja fazendo os exames. Nesse caso o correto é denunciar, mas as únicas horas que a criança fica fora dessa situação é quando está na escola. Que tristeza.

As escolas particulares da minha cidade preferem ser omissas pra não perder dinheiro, numa situação dessa vc teria que ter a diretora e a orientadora com vc para dar um prazo pra esses pais. Com 5 anos os médicos já dão o diagnóstico que poderá ajudar a todos. Com pais assim usem o ECA (estatuto da criança e do adolescente). Pais que batem tanto nem sempre a lei freia, mas precisam lidar com alguém mais ameaçador.

A comenta: Acredito que nesse caso o quanto antes a denúncia ao Conselho tutelar para que não aconteça o pior. 
Inadmissível acontecer esse tipo de coisa, Pais que acham sempre que o filho é problema esquecem que muitas das vezes falta é compreensão deles para ajudá-los a superar os obstáculos. Triste ao ler isto, meu coração dói só de imaginar.

J comenta: pelo relato ... se realmente for autismo.... parece não ser um grau muito elevado, porém essa criança está sofrendo nas mãos destes pais que estão deixando de oferecer o que esta criança precisa! Infelizmente alguns conselhos tutelares não tem agido da forma muito exemplar, mas é a única saída ! É preciso Urgente, investigar a vida desta criança! Antes que seja tarde de mais!

Cl comenta: Denúncia urgente. Nenhum profissional vai conseguir ajudar essas crianças se a família procede dessa forma .

Ci comenta: Bem, SE há alguém 'doente' nessa história são os pais! Se ele agride o filho com chicote e cinto, já deveria ter sido denunciado À POLÍCIA, por abuso e agressão a incapaz, ELE deve ser afastado da família para tratamento. Na MINHA opinião a criança NÃO É autista, é apenas uma criança ATERRORIZADA, que tmb vai precisar de tratamento, e por MUITO tempo. A professora corajosa precisa ficar FIRME na sua coragem e procurar A POLÍCIA, depois o conselho tutelar, etc. SE for ameaçada ou pressionada pela escola, deve lembrar-se que calar, neste caso, é conivência e cumplicidade com um CRIME. Não há emprego que valha isso. Que ela pensa SEMPRE na criança que LHE PEDE SOCORRO. 
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respondi:
 certíssima. Recomendei o Disque 100, em primeiro lugar, para manter o sigilo do nome e, por consequência, a idoneidade da professora. Sabemos como estão acirrados os ânimos da população que "faz justiça do jeito que entende justiça"... e, muitas vezes, em momentos de raiva, por se verem desafiados, podem investir contra a educadora. Cautela é importante, estudar os passos, ver quem está junto, com quem pode contar. O primeiro movimento (e urgente) é a denúncia para tentar evitar a continuidade das agressões físicas.

Esta professora não pode ficar sozinha nesta empreitada. E sair fora do emprego, neste momento, seria também abandonar o pequeno à própria desdita. Como bem disse a I: são as únicas horas em que ele está em espaço seguro e saudável!

R comenta: Na minha humilde opinião o problema não é o autismo, se é que tem. Ele tá em pânico mesmo. Tem que entrar em contato com o conselho tutelar.

P comenta: Meu Deus gente, imagina como está o coraçãozinho dessa criança e o dessa professora que vê tudo isso sem poder ajudar em nada, Marise Jalowitzki, tem alguma lei que obrigue esses pais a levar essa criança no médico para fazer um diagnóstico? Quanto às crianças apanharem acho que deveria ser feita uma denúncia no conselho tutelar, poderia até ser anônima, assim eles investigariam com vizinhos dessa família, acompanhariam melhor a evolução da família, me corrijam se eu estiver errada, mas não acho que a professora deveria falar sobre sua suspeita de autismo, pelo menos não nessa situação, pois pode causar mais revolta na família, eu acho tão difícil a gente conseguir ajudar um filho com autismo, tdah, etc, e se os pais não aceitam, isso se torna mais difícil ainda, quanto antes essa criança for ajudada, melhor. Quisera eu que a professora do meu filho seguisse esse grupo, se preocupasse em se interar do assunto, assim sofreríamos menos, professora vc está de parabéns, e tenha a consciência de que vc está fazendo a diferença nesse mundo.

respondi:

brigar, obrigar, de jeito nenhum, mas, claro que se a criança não acompanha mesmo (mas isto só em idade escolar, não pré-escola), com atraso grave e a família não toma providências, a escola aciona o conselho tutelar e o caso e analisado, a família aconselhada e, em última instância, perdem a guarda. Mas, como todas concordamos, a primeira intervenção agora é sustar a agressão física.





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