sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

TDAH ou sem-vergonhice? Quando Pais e Escola precisam de conselhos

Processo de homogeneização - Crianças diferentes são colocadas à parte, a um canto da sala, isoladas dos trabalhos de grupo, sem receber atenção devida nem serem chamadas a participar de eventos comunitários.




Por Marise Jalowitzki
20.fevereiro.2015
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2015/02/tdah-ou-sem-vergonhice-quando-pais-e.html


"Quando os alunos da primeira infância entram na escolinha chegam ansiosos, alguns com medo, mas todos com uma grande expectativa frente ao lugar novo onde irão ficar. Como seu maior compromisso é se sentir bem, ser feliz e viver em harmonia, eles, os pequenos, não trazem rótulos nem intencionam passar para nenhum outro colega um rótulo. Criança pequena quer brincar. Se, por acaso, ela já foi identificada com os sintomas de distraída ou muito ativa, isso já vai sendo observado e trabalhado pelos educadores, caso a escolinha tenha seus profissionais devidamente preparados.

Infelizmente, muitas vezes o tratamento dado a essa criança se resume a professora ficar em pé nas atividades em grupo, segurando a criancinha problema pela mão, impedindo que ela participe das atividades físicas, impedindo que ela dê trabalho, impedindo que ela prejudique as atividades dos outros, quando deveria ser justamente nas atividades de maior movimento, onde gastaria sua energia, que ela encontraria as maiores chances de se inserir e aprender a compartilhar. Vira assim, uma mera expectadora das atividades dos coleguinhas, onde amaria e deveria participar.

Nas séries mais adiantadas, já em fase escolar, caso a sintomatologia seja apenas ali reconhecida, é comum que a criança já se sinta oprimida pelo rótulo e com muita raiva, mesmo sem saber ao certo porque. Diz-se que as escolas públicas não estão preparadas para lidar com a situação, mas, muitas escolas privadas também não estão. Crianças diferentes são colocadas à parte, a um canto da sala, isoladas dos trabalhos de grupo, sem receber atenção devida nem serem chamadas a participar de eventos comunitários. A segregação é notória e elas ficam expostas a todos os demais colegas. Também há escolas privadas que colocam o acompanhante terapêutico ao lado do aluno problema e tudo o mais segue igual; os responsáveis sentem que sua intervenção já aconteceu e ponto final.

Quando, finalmente, acontecer de receberem o atendimento conveniente, o tempo real despendido para que aprendam novas estratégias é insuficiente, na melhor das avaliações. Professores que, até ali, conseguiram lidar com vários alunos com alguma deficiência, ao se deparar com uma criança ou adolescente com os sintomas de TDAH, não sabem o que fazer. Como os sintomas dizem respeito ao comportamento, reações de revolta, raiva, deboche, indisciplina, evasão, desatenção, mentiras, pequenas trapaças (como simular assinatura dos pais, etc.) vão desconfortando professores que podem até mesmo descontrolar-se e vivenciar conflitos.


No Brasil as estatísticas continuam escassas, mas, em dados obtidos em diferentes instituições educacionais, estima-se que trinta por cento das crianças necessitem de reforço escolar por apresentar atrasos no desenvolvimento da concentração e habilidades, oferecerem resistência em seguir regras e comandos, além da carência em habilidades motoras e suporte à frustração (resiliência)." 
(pág. 189 a 190 - Livro TDAH Crianças que Desafiam)



Por certo, não será drogando-as que elas estarão inseridas no contexto! É preciso implementar novos jeitos de ensinar e aprender!
(Foto original de Edson Silva - SP)


Impotência

Neste último feriado ouvi, mais uma vez, uma gritaria no entorno. É sempre o mesmo casal. A mulher grita histericamente contra o filho. Ouve-se o choro da criança. O pai defende o pequeno. A mãe grita freneticamente, a plenos pulmões: 
"É manha, é manha, é manha!" O pai repete: 
"Ele não consegue! Não vê que está se esforçando e não consegue?" 
A mãe, de novo: 
"É manha! Para de passar a mão por cima!" O choro da criança é mais forte. 
"- Cala a boca!" - grita a voz feminina. Mais alguns insultos mútuos dos adultos. A voz masculina grita: 
"- Chega, não aguento mais!" 
Ouve-se barulho de porta batendo. O homem, provavelmente, vai embora. A criança fica à mercê da raiva, indignação e impotência materna.
A criança chora mais alto. Deve ter recebido agressão física extra. Silêncio. 

Em situações anteriores já tentei detectar de onde chegam as vozes. Não dá! De meu quinto andar o som chega de mais de 20 edifícios e-ou casas. Cada edifício com 30, 50 apartamentos. Como identificar? 
Impotência! 
Envio uma vibração de conforto para o pequeno, torcendo para que consiga sobreviver ao caos. O que tudo este pequeno já leva em sua bagagem emocional?
Para os pais, desejo que amenizem seus comportamentos. Que pensem no valor de seu filho, no valor do Amor e menos na pressão social, onde a escola detêm um lugar bem importante...e as amigas da mãe, também...

E, nesta impotência, volto aos meus afazeres... 

Cada um de nós tem suas habilidades e os cidadãos conscientes precisam assumir um papel de protetores, divulgadores, esclarecedores.

Há que auxiliar com conhecimento e informação, sempre que possível, e sempre de fontes confiáveis! Pais precisam compreender melhor o que se passa no universo infantil. E o quanto o ambiente em que a criança está inserida influencia em seu dia a dia.

Há muita literatura contrária, que só faz piorar as relações pais-filhos. É uma filosofia pautada na premissa de que "somos-todos-originalmente-maus" e, assim, temos de "ser-vergados" para não dominar!...
Não cultuo esta crença.
Acredito - e constato - que a criança, ao nascer (e já antes, no ventre materno) é um serzinho amoral. Tudo que aprende como sendo "Certo" ou "Errado" é ensinado primeiro pelos pais e entorno, depois na escola (professores e colegas), continuando nos outros segmentos sociais de que passa a fazer parte. E o que é plantado, brota em forma de convicções e verdades. Sejam quais forem.

Não há maior lição do que aquela que é ensinada pelo exemplo, pelas ações práticas do dia a dia, que a criança copia, muitas vezes sem nem perceber!

Há que continuar auxiliando na divulgação de mais formas de Tolerância, Respeito, Entendimento, Aceitação. E também de mais Conhecimento, para entender que a criança não é teimosa, não faz por mal, não quer se "impor"!... não é "sem-vergonha", nem "tá se fazendo", nem é "preguiçoso"! 

É preciso destacar o quanto a criança se esforça, quanto ela procura acertar, quantas vezes se empenha! E não apenas no resultado "certo"!

Quanto mais a criança se sentir aceita e compreendida, mais aumenta sua auto estima, mais coragem cria para se manifestar, dar sua opinião, responder e, não apenas, olhar para a cara da mãe ou professora, procurando "ler" no rosto do adulto a resposta que ela (criança) desesperadamente quer dar e não sabe qual é! Não sabe o que "o adulto quer"!!

Ferida em sua autoconfiança, esta criança não aposta em si.

Ela precisa de ajuda! 
Quando ela diz: "Eu não consigo!" - mude, amorosamente, a forma de explicar!!!
Ela precisa que os adultos lhe mostrem uma outra forma de ler, ver, entender, fazer!!



Pela mudança na metodologia escolar e pela revisão dos currículos!





Por mais Amor e Compreensão, incluindo o interior dos Lares!






 Marise Jalowitzki é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano saudável. marisejalowitzki@gmail.com 

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