terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Reprovado em Artes e toca qualquer instrumento musical? Algo está muito errado!

"Não adequar-se pode servir de sinalização aos pais e educadores de que muita coisa no entorno não está de acordo com padrões de felicidade e autenticidade."   (Livro TDAH Crianças que Desafiam - pág. 19)

E o que é Felicidade? Felicidade não é estar sorrindo o tempo todo, nem estar no "Édem", nem estar em êxtase, nem estar em alfa. Felicidade é fazer algo que tem sentido para si, abstrair satisfação disso, enfrentar com responsabilidade os desafios advindos desta escolha, é deitar à noite a cabeça no travesseiro e saber que fez o seu melhor, o seu possível e que isto foi de valia! (Marise Jalowitzki)




Por Marise Jalowitzki
27.janeiro.2015
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2015/01/reprovado-em-artes-e-toca-qualquer.html


Tudo errado!
Se há coisa que me deixa indignada é quando tomo conhecimento de um caso como o relatado a seguir. Mais um caso!
E há tantos professores que entram in box ou por e-mail pra me xingar, dizendo que coloco todos em mesmo patamar. Não, não coloco os educadores em mesmo patamar. Coloco o ensino em níveis diferentes e isto, não tem como negar. RARAS são as instituições de ensino no Brasil, públicas ou privadas, que primam por um método de ensino efetivamente inclusivo. E raros, também, são os educadores que se propõem a fazer diferente! Estes últimos, recebem meu ainda maior reconhecimento, pois, na maioria das vezes, são solitários desbravadores em um contexto que, geralmente, além de não lhes conceder apoio, ainda lhes é hostil. Não recebem nem o apoio dos colegas, nem da direção, sequer dos pais.

Agora, quando os pais (primeiros e maiores interessados) estão compromissados com o divino ato de educar para a Vida, quando os pais tentam a parceria com as escolas, quando os pais investem tudo que podem e sabem e não recebem eco da escola, aí, o que fazer, a não ser divulgar tais práticas, na pura intenção de que as partes interessadas resolvam sentar-se em mesa de parceria e, juntos, tentar mudanças positivas?

O relato desta mãe queima em minhas mãos, principalmente porque, em seu depoimento, coloca o nome do colégio, uma das mais "consagradas" instituições de nosso país. Não menciono, assim como também não o faço em relação à mamãe em pauta e seu filhote, para resguardá-la, pois, bem sabemos, a retaliação será ainda maior.

Mesmo assim, fui procurar na web qual a frase-chavão da famosa instituição da rede privada. E, aí, aumentou ainda mais a indignação. Fazer sua propaganda exatamente sobre o que não está acontecendo, puxa, é muita ...como vamos chamar... desonestidade? é, creio ser esta mesma a palavra!

A mãe escreve:
Filho reprovado nas disciplinas: História, Literatura e... Artes (a disciplina que, em tese, serve para libertar o espírito humano!!)

"Meu filho foi diagnosticado com TDAH, repetiu o primeiro ano do ensino médio no Colégio ....... onde estuda desde o 6º ano, sendo que foi retido novamente no primeiro ano do médio, por ter ido a exame final em três matérias: História, Literatura e ... Artes. Artes, onde tenho sérios questionamentos em relação às notas dadas pelo professor. Não fosse isso, ele iria para final em História e Literatura." 

"Meu Filho é dedicado!" - Novamente, Professores que se importam mais com os resultados em conceitos e notas, em resultados, ao invés de avaliar o interesse, a concentração e a dedicação do aluno!!)


"Ele estudou diariamente, inclusive sábados e domingos e o professor particular que o acompanhou, tem vasta experiência com estudantes com TDAH e ele me disse que o caso de meu filho não é cognição e sim falta de atenção característica do TDAH, sem falar no pânico por provas, consequência de anos de pressão para ter foco." 



Desorganização da Escola - 4 provas na mesma manhã e as mais difíceis por último!!

"Nos dias de recuperação, ele chegou a ter 4 provas no mesmo dia. Veja bem, para um aluno com TDAH, concentrar-se por 1 hora seguida já é um exercício absurdamente pesado. Multiplicado, então! A escola não leva isso em consideração. 
Ele fez a prova de recuperação de Literatura e tirou 6,9, em Artes ele tirou 6,6, depois foi Matemática e Química, não aguentava mais, foram as últimas provas do dia da recuperação. 

Eu acho que ainda tenho cópia da receita da neurologista indicando Ritalina para ele, porém, o meu filho passou muito mal tomando essa medicação e se recusou a tomar, o que, sinceramente, também preferi e desde então ele não tomou mais nenhum medicamento. 

Por favor, me ajudeestou desesperada! Os impactos emocionais são muito piores (Auto-estima, ele não acredita mais em si) do que a própria repetênciaEu sinceramente não sei o que fazer, que caminho seguir." 

Reprovado em Artes e toca qualquer instrumento musical? Algo está muito errado!
(Não tivesse sido 'reprovado' em Artes, teria condições de realizar a recuperação e ser aprovado para o 2º ano)

"Meu filho tem um dom de “ouvido” muito impressionante, nunca estudou para nenhuma prova de inglês e só tira notas boas, o inglês é o que aprendeu no colégio, nunca fez aulas fora, além disso, toca praticamente qualquer instrumento musical de ouvido, aprendeu violão e guitarra, toca bateria e violino. Será que meu filho será destruído por esse método de ensino que temos no Brasil atualmente? Ele não acredita mais nele mesmo."



AUTOESTIMA

O que está em foco: A auto estima dele! Isto é o mais importante e o que precisa ser preservado!
Ele já demonstrou suas tendências e habilidades: a música e língua estrangeira.
Esta habilidade auditiva é bastante própria nesses queridos e eles (os indivíduos que possuem como canal de comunicação e assimilação predominante a audição) representam apenas cerca de 4% da humanidade. É natural que ele se sinta um diferente. E é. Só que diferente não é doente, como vários segmentos sociais querem (por vezes até na família).
O que tens de fazer é ajudá-lo para que ELE entenda, em primeiro lugar, que não é ele o "errado", embora seja uma minoria. Sim, o grito da maioria é grande, mas não é o certo. E aí entra o trabalho de uma mãe amorosa: ajudar o filho a perceber como, na Historia geral da humanidade, a caminhada evolutiva tem acontecido a passos lentos, muito lentos. 

PROCESSO DE CONVENCER O JOVEM DE QUE ELE É MERECEDOR DE RESPEITO

Sei que é bem difícil a tarefa de convencer um jovem que já está carregado de julgamentos, penas, humilhações (bullying - quer ele te conte, ou não, é certo que recebeu muito, seja de colegas ou mesmo de professores). Convencer de que o mundo (e não ele) está muitíssimo atrasado em seus valores morais, éticos, pedagógicos e de inserção na Vida (social, afetiva, de mercado). Ele está justamente naquele momento de pico em que tudo que o ser humano quer é ser aceito. Por isso é tão importante que a família (pelo menos a mãe) o sustente, e mostre que a tarefa não será fácil, mas é possível. Amar-se é que possibilita voltar a acreditar em si. 
De tua parte, muita conversa. Por vezes ele vai mesmo fugir dessas conversas. Vai de novo, com calma, com docilidade. Muito afago, toque, massagem nas costas, na parte de trás da cabeça (sentido do crescimento do cabelo, não o contrário).

ESCOLA

Este é o tendão-de-Aquiles. Se queres levar a coisa pra frente, saiba que muitas mães o estão fazendo. As escolas, de um modo geral, estão seriamente despreparadas para receber alunos que assimilam os conhecimentos de outra forma, que não a metódica e tradicional e chata forma escrita de avaliação.
Sim, eles precisam inovar. Provas mais curtas, até mesmo desmembrar em duas, três etapas uma extensa "prova-provação final", não acumular tudo em um turno só (escola que faz isso quer mesmo dificultar o processo, pois todos sabem que é antipedagógico). Devem oferecer condições de fazer a prova em separado (geralmente na biblioteca, sem aquele prazo estrito, onde não se sinta pressionado). Devem levar em conta pesquisas, trabalhos, trabalhos em grupo, apresentações em grupo.



ESPECIALISTA EM SAÚDE COMO PARCEIRO

Em muitas situações o especialista que trata do garoto (e que forneceu o laudo) poderá auxiliar, indo até a escola e pleiteando ações diversas. Isto é o ideal. Poderá ser o neurologista, o psiquiatra, ou a psicóloga que faz a terapia. Ministrar ou não o medicamento (que sabemos ser um paleativo) não é premissa para continuar o tratamento. Por isso é tão importante que se estabeleça uma parceria entre médico-terapeuta e a família. Se for um especialista adepto à tarja-preta e a família pensar diferente, já está criado um impasse e a criança fica ainda mais desassistida.
No Brasil, temos bem poucos especialistas que enxergam TDAH mais como um desvio da sociedade do que um transtorno na criança-adolescente. E que é a sociedade que antes precisa se ajustar ao que a criança tem para dar ao invés de só exigir dos pequenos e colocar a responsabilidade nas costas dos adolescentes ou da genética!
O ideal é conseguir um especialista que não tenha esta filosofia exclusiva de medicação psicotrópica e que aceite intervir na escola.
Há homeopatas, fitoterápicos e outras medicinas que orientam e ministram, inclusive, medicamentos bem menos invasivos que psicotrópicos, ajustados a cada situação-característica-quadro.




SEC e-ou ADVOGADO

Algumas diretoras - em cujas instituições tais procedimentos ainda não são utilizados - são sensíveis quando as mães pleiteiam mudanças na metodologia. E aceitam revisar o processo. Outras, optam por manter-se rígidas. Neste casos, algumas mães decidem procurar a SEC - Secretaria de Educação, para denunciar o ocorrido. Anunciam ou não à escola que vão levar ao conhecimento da SEC (independente se é pública ou privada, todas as escolas são vinculadas ao MEC). 

Por vezes, neste momento já se criam parcerias entre pais e professores-direção-orientadora. Caso contrário ("pode levar para outra escola! aqui não fazemos milagres!") é dar conhecimento na Secretaria de Educação de sua cidade. 

Aí, tem de ir com um dossiê, um relatório por escrito, onde constem o diagnóstico, as intervenções havidas, onde também constem todas as ocorrências, a falta de diálogo, a pouca aposta em metodologias inovadoras e a falta, principalmente, de uma pedagogia inclusiva e amorosa. Deixar uma cópia desse dossiê na SEC e ficar com uma pra ti (preferencialmente assinada pela pessoa que te ouviu).

De acordo com o resultado, não sendo ouvida, é importante procurar um advogado para levar adiante o assunto. Só que, neste caso, será bem interessante avaliar se vale a pena deixar o adolescente neste mesmo colégio ou transferi-lo, pois poderá ser mais alvo-vítima.

A IMPORTÂNCIA DA APROVAÇÃO OU REPROVAÇÃO NO ENSINO SERIADO-CONTINUADO

Este é um ponto em que os pais, em primeiro lugar, precisam SE trabalhar. Reavaliar o que é realmente importante e imprescindível na vida do garoto. Sim, foi investimento despendido, é tempo "perdido", é desgaste e arranha a autoestima, mas não é a Vida! Há crianças que reprovam uma, duas, três vezes. Acabam chegando à idade em que podem ir para o supletivo e lá, em pouco tempo, com métodos diferentes (tipo uma aula semanal presencial, as demais pela internet), promovem a aprovação em pouco tempo.

Assim, é importante sinalizar todos estes caminhos para teu filhote, querida.
Ainda mais que vês que ele se esforça, que se empenha.

Para os dias de muita exigência, podes providenciar o Rescue, que é um Floral de Bach que ajuda a combater a ansiedade. Ou outro, específico para ele, que um floralista (muitos homeopatas também conhecem florais) poderá receitar.

Embora não tenhamos em nosso meio uma filosofia inclusiva, temos de batalhar para conseguir isto.Pois isto é o certo. É o que precisamos proporcionar para nossos pequenos. E é o que eles merecem e tem direito.

Abraços, querida!
Desejo MUITAS FELICIDADES para ti e teu filhote!
Bola pra frente!
Temos aí um grande talento que, em breve, vai dar uma bela virada de página em todo este desgosto.

Já promovi seminários com este título: "TDAH e o Desafio de Chutar o Balde!" e é no que acredito!

(só lamento que tenha demorado tanto tempo para esta msg chegar em minhas mãos. Espero que meu abraço ainda seja sentido!)


Escrito por Marise Jalowitzki. Se copiar ou citar este artigo, mantenha esta nota e o link original. http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2015/01/reprovado-em-artes-e-toca-qualquer.html






que não se continuem desperdiçando talentos...



 Marise Jalowitzki é educadora, escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano saudável. marisejalowitzki@gmail.com 

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