sexta-feira, 23 de maio de 2014

Além de chamar de idiotas, você faz o que?





Além de chamar de idiotas, você faz o que?

Por Marise Jalowitzki

Por incrível que pareça, a frase do integrante do Jota Quest continua repercutindo. Creio que nunca o Altas Horas recebeu tanto Ibope. Serve como balizador de mais um ponto de revolta do povo. Coisa que, aliás, está virando uma mania, assim como manifestar esta mesma revolta em forma de xingamentos, ameaças e retaliações, primeiro nas redes sociais, depois em ações populares dramáticas e, por vezes, trágicas. 

Nosso “Acorda, Brasil!” está nisso! Reclamar, injuriar e, “sempre que der”, agir com as próprias mãos! O que o solista da banda conseguiu, com o seu desabafo-julgamento, além de insuflar ânimos contra os pichadores? 

Sim, o que os pichadores fazem é deplorável. Enfeiam ainda mais nossos muros de concreto, expõem ainda mais nossas gaiolas-apartamentos-prisões. Acabam com exposições elitistas. Particularmente, sou a favor dos grafiteiros que trabalham tentando ocultar o caos em que estamos imersos. Cobrem marcas horríveis de óleo queimado incrustrado nos túneis, põem um colorido bacana nos muros do cais do porto que encobre a linda visão do por do sol sobre a água, pintam árvores em meio ao asfalto tóxico, dão colorido a espaços embolorados que a administração pública abandona. E sua ação é voluntária. Sim, os grafiteiros fazem mais bonito o mundo de concreto e aço que teimamos de chamar de Vida. E os artistas plásticos de renome, que conseguem um espaço temporal em galerias, produzem um lindo trabalho também, expressão da arte contemporânea, quase sempre em abstratas e evasivas mensagens. Como todos nós costumamos ser. Abstratos e evasivos. Também nós, nas críticas, somos tão sem causa quanto aqueles que criticamos. Por ficar apenas nisso, na crítica.

Não, não aprovo o que os pichadores fazem. Dói na alma ver a ação deles invadindo espaços e arrasando com a produção ali exposta. Mas há que pensar ações preventivas! Há poucos dias lamentei a morte de um rapazote de 17 anos que caiu do 8º andar, enquanto enfeiava mais um edifício e recebi algumas críticas por isso.. "Como" eu lamentava a morte de um marginal? "Já foi tarde!" - eu escutei. Mas, meu lamento não foi por “aquele” rapaz em si, cujo nome nem lembro, e, sim, por toda uma geração que aí está, sem perspectivas saudáveis, tentando silenciosa e escancaradamente chamar a atenção para o descaso mórbido em que a sociedade se acostumou a estar. Seu maior escape são as drogas – lícitas ou ilícitas, receitadas em consultórios e recomendadas em colégios ou compradas livremente pela web ou em farmácias coniventes. Ou escapando de viver de verdade, utilizando todo o aparato eletrônico que os abstrai sem que se deem conta do voar do calendário. Ou o vandalismo.

Serão apenas os pichadores os idiotas?

Idiotas também somos nós que batemos palmas a declarações taxativas, que nada mais fazem do que malhar e insuflar mais sentimentos de revolta e revanchismos. Aprovo a mensagem do cantor que fez a declaração enfática, mas faltou um final educador!

Eu também penso que pichadores são transgressores do status-quo. Eles, os pichadores, não agridem pessoas, não matam, não arrastam pelas ruas pessoas inocentes, erroneamente acusadas; os pichadores não amarram meninos negros que roubaram um celular ou foram ‘identificados’ como possíveis estupradores, nem batem neles até desmaiar ou morrer. Os pichadores  agridem nosso subconsciente, agridem nossa mania de querer melhorar as coisas passando uma tinta bonita sobre o feio, agridem o nosso constante empurrar-com-a-barriga, esconder com verniz transparente as agressões que vivemos todos os dias, seja nos 38 bilhões destinados para a copa, seja nos indultos de crimes de corrupção e desvios, enquanto os corredores dos hospitais continuam atulhados de pessoas à espera de um leito e crianças apinhadas em escolas sucateadas. E tudo o mais que já sabemos e que exaustivamente criticamos.


Para cada crítica, duas alternativas de solução

Quero sugerir um exercício individual, que não se pretende uma ‘lei’, já que de leis estamos fartos; leis que não se cumprem, cumprimento que ninguém fiscaliza. Quero sugerir que, para cada crítica, todo cidadão apresente duas alternativas de solução. Práticas, viáveis, e que passe a lutar para que elas se tornem ações, concretude, mudança efetiva. Assim, sim, exercitaremos um verdadeiro papel de reforma e melhoria. Só “baixar o pau”, “sentar lenha”, não. O que faltou no desabafo do cantor foi incluir um alerta aos cuidadores da infâncias, especialmente os pais, para que cuidem melhor de seus filhos, que observem bem em que ele ocupa seu tempo, o que ele vem comprando e onde está usando o que compra; acompanhar o crescimento de seus filhos e conhecer o que lhes vai no intimo. Ser parceiro e indicar caminhos saudáveis. 

Volto-me cada vez mais para exortar os pais e cuidadores infantis. Ali está o cerne do necessário e evolutivo ajuste. Tratar da plantinha enquanto está pequena, direcionar o caule antes que se torne rijo na direção indevida. Sim, temos muitos focos sociais onde bem pouco resta como possibilidade digna para quem ali nasce, mas, há tantas vidinhas que tem residência fixa, um ou mais cuidadores, roupas e alimentação, necessidades básicas supridas, e esses tampouco recebem a semeadura de conceitos e valores importantes e aplicáveis.

Pais, cuidem bem de seus filhos, hoje. Exortem, sejam exemplo, mostrem caminho. Se você ama verdadeiramente seu filho, não permita que ele seja chamado de idiota amanhã. Faça por ele, hoje.

E aos jota quests da vida: divulguem ao grande público as ações sociais que vocês desenvolvem e patrocinam para que as crianças de hoje não sejam a próxima geração de idiotas, ok? Só criticar sentado em cima de sua conta bancária não ajuda em nada. Só xingar não vale. Aí não há saia justa de Groismann que segure. 

Proporcionar melhores perspectivas para o futuro é semear a Paz.



Marise Jalowitzki
Compromisso Consciente

Escritora, Educadora, 
Idealizadora e Coordenadora do Curso Formação para Coordenadores em Jogos e Vivências para Dinâmica de Grupos,
Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela FGV,
Facilitadora de Grupos em Desenvolvimento Humano,
Ambientalista de coração, Vegana.
Certificada como International Speaker pelo IFTDO-VA-USA
marisejalowitzki@gmail.com 
compromissoconsciente@gmail.com 



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