quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Ecologia e a morte de um amigo



Para que as coisas mudem para melhor temos de mudar nossa maneira de ver o mundo, viver no mundo, consumir no mundo. Se não revisarmos o modelo, não haverá melhoria.

Ecologia e a morte de um amigo

Por Marise Jalowitzki
18.outubro.2012
http://compromissoconsciente.blogspot.com.br/2012/10/ecologia-e-morte-de-um-amigo.html

Consciência Ambiental - Se você tem, pratique!
Violência gera violência!
Vingança só acarreta mais desgraça.
Mudanças estruturais não acontecem do dia para a noite.
Para mudar a visão que as pessoas tem sobre a vida, o planeta, a natureza, a conservação dos recursos naturais e da necessidade de mantê-los para MANTER A VIDA é preciso muita, mas muita persistência.

Hoje foi um dia de lembranças.
Hoje fez 8 anos que perdi um amigo, um irmão. Coube a mim e a outro amigo reconhecer o corpo no DML. Ele, após ter sido convidado para participar de uma empresa de turismo ecológico no centro do país, quando chegou lá, constatou que se tratava de grilagem de terras e comércio ilegal de madeira. Revoltou-se, apanhou, voltou, uma mão na frente outra atrás, mas não adiantou. Tinha de ser queima de arquivo. Ele levou consigo seus conhecimentos e segredos. Nunca revelou detalhes para nenhum parente. Cinco golpes de 'arma branca' silenciaram-no para sempre. Casa revirada, desordem nos papéis, revistas e livros. As marcas de piche encontradas nos dedos foram identificadas pelo delegado como "comprovação da execução". Ele foi apenas mais um dos executados, anônimos neste mundo de fachada ecológica.

Um outro amigo, mais recentemente, também voltou do norte, convidado que havia sido para exercer o cargo de 'supervisor' em empresa madeireira. 
"É tudo certo, tudo legal?" - assegurou-se antes de partir.
"Tudo nos conformes, não se preocupe!" - asseguraram os contratantes.
Chegando no Amapá, viu tratar-se de comércio ilegal de madeiras.
"-Tô muito velho pra este tipo de coisa!" - disse ele, e voltou ao RS. Por enquanto, está vivo.

O cenário não muda. Notícias de toda 'sorte"/azar continuam sendo noticiadas. Desmatamento alarmante, o maior da história do Brasil, pessoas se aproveitando [como sempre] do tempo que leva para que as autoridades tomem decisões, sancionem leis, aprovem projetos; do beneplácito que um país do tamanho do nosso proporciona, onde, mesmo após aprovadas as leis, há tão pouca vigilância que a impunidade permanece. E os que ocupam os cargos, exatamente por serem em tão reduzido número, como exigir deles que arrisquem as suas vidas e as de suas famílias em uma luta até agora inglória? 

Nesta mesma data a presidente Dilma veta 9 itens no [arrastado] Código Florestal. De que adianta, se os poderes, o efetivo e os veículos, tanto do Ibama como da Polícia Federal não forem reforçados? 

O avião leva os funcionários do Ibama até uma clareira. Lá, milhares de árvores tombadas estão nos caminhões, prontas para seguir sua rota clandestina e criminosa. O que podem fazer dois, três funcionários contra toda uma quadrilha, crime organizado? O QUE ganharia o país com mais alguns mortos, a não ser a dor dos seus familiares sobreviventes?


A promessa do governo é de que o "Brasil tem condições de suprir a demanda de alimentos do mundo".


Os acontecimentos se sucedem, seja em noticiários, seja em revistas, artigos, relatos pessoais. 

O que dizer para tantos agricultores gaúchos falidos, somente neste ano, em função das desgraças ambientais? Ciclones, ventanias sequentes de mais de 100 km, enchentes que arrastam tudo, granizo em  pedras enormes, lavouras perdidas, casas inundadas. Os mais velhos, as crianças, as mulheres, os mais pobres, os pequenos agricultores, ficam chorando. Declaram não saber como pagar os empréstimos bancários. Não adiantou comprometer-se em usar pesticidas com o banco que concedeu o empréstimo,  usar vários agrotóxicos, fertilizantes de todo estilo, para assegurar ao banco uma garantia de retorno com uma colheita certeira. As plantas modificadas geneticamente cresceram, sim, neste lamentável momento alimentar em que vivemos, onde a quantidade, o tamanho, a 'beleza estética' de uma fruta, de um legume, vale muito mais do que seu valor nutricional. E, infelizmente, como nos anos anteriores, as extensas queimadas da Amazônia, especialmente do Mato Grosso, trouxeram ventos muitos quentes, durante praticamente todo o inverno no sul, ventos secos (e tóxicos), chocando-se com as massas polares que vem, especialmente, pela Argentina, transformando em enchentes e granizo destruidor o que era para ser chuva e frio. Acabaram com muitas plantações, ampliando os bolsões da miséria camuflada - sim, pois o RS recebe apenas a propaganda de um estado riquíssimo. Ninguém fala QUAL O PERCENTUAL dos que estão 'se dando bem' na agricultura.

Muita gente sabe de tudo isso.

Agora, inicia-se um novo êxodo dos adultos jovens, sadios e 'espertos' que largam tudo e vão desmatar na Amazônia, como há 50 anos atrás, derrubando sem piedade as árvores centenárias. Derrubar primeiro, ver o que acontece, depois. No máximo, algumas multas que poderão ser contestadas à exaustão. Há processos que simplesmente prescrevem e continua tudo 'no limbo'. Esses 'espertos' sonham com colheitadeiras eletrônicas, onde o ato de colher as sementes é monitorado como em um jogo de video game. Diversão e lazer.

"O que você vai fazer  com os lucros da boa colheita?"
"Vou comprar mais um trator e uma colheitadeira moderna, que rende muito mais!"

A promessa do governo é de que o "Brasil tem condições de suprir a demanda de alimentos do mundo". A que preço? Quais as bases de sustentabilidade para contemplar e compartilhar ganhos reais? Nas pessoas, no ecossistema? 

Enquanto isso, pequenas associações vendem sementes naturais, ecológicas, adquiridas por alguns poucos que acreditam que ainda é possível 'salvar' o planeta.

Os cinco furos que deixaram no corpo de meu amigo, não foram em vão. Ao meu amigo-irmão, meus votos de que, esteja onde estiver, seja MUITO FELIZ e que possa trilhar caminhos mais alvissareiros, em um lugar com menos violência e ganância. Com mais PAZ, HARMONIA E FELICIDADE. RESPEITO E COMPARTILHAMENTO.


Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o Teu Nome!


Perguntam-me como posso ter fé em um mundo como esse. EU PRECISO ter Fé para continuar fazendo a minha parte para a melhoria em um mundo melhor!



Marise Jalowitzki
Compromisso Consciente


Escritora, Educadora, Ambientalista de coração,
Coordenadora de Dinâmica de Grupo,
Especialista em Desenvolvimento Humano,
Pós-graduação em RH pela FGV,
International Speaker pelo IFTDO-EUA
Porto Alegre - RS - Brasil 




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