quarta-feira, 25 de maio de 2011

Abdias Nascimento - o nosso Mandela

Abdias Nascimento, um libertário

Abdias Nascimento - o nosso Mandela

Por Marise Jalowitzki
25.maio.2011
http://t.co/RV2ihPf

Em um país onde os problemas raciais e todos os demais tipos de preconceitos, até há bem pouco tempo eram negados, não é de estranhar que Abdias Nascimento tenha passado sua vida sem ser uma celebridade no Brasil e no mundo. Ainda hoje as questões preconceituosas e discriminatórias, especialmente em relação à cor da pele, recebem um vinil podre, como se, velando, deixassem de existir.

Conhecido e reconhecido por alguns, nunca alcançou as "grandes massas". Sua trajetória, entretanto, é digna de receber notoriedade internacional.

Onde estão os símbolos, os obeliscos, uma mostra de arte, apresentando ao mundo - especialmente e primordialmente aos brasileiros? Enquanto não se cultuar aqueles que tem a coragem de elevar sua voz e dar o nome que as atitudes e palavras realmente tem, dificilmente conseguiremos refrear a discriminação.

Abdias é, sim, um libertador em potencial, assim como o foi Martin Luther King, Nelson Mandela e Desmon Tutu. Espero que os signatários da educação o incluam, pelo menos agora, nos livros didáticos de ensino de nossa história e cultura social. Pelo menos como reconhecimento pós-morte.


Abdias Nascimento e Oludum

Em vários dos cursos que ministrei, tive uma presença ilustre: Clenir. Uma bela mulher negra, vibrante, inteligente e, ao mesmo tempo, perscrutadora e séria.

Ela queria sempre levantar as questões de preconceito, para que fossem abordadas e discutidas pelo grupo de desenvolvimento. Minha posição era de deixá-la livre, tomar pé da discussão. Os trabalhos, já em fase de avolução (nível master), proporcionavam que os integrantes assumissem a coordenação e liderassem o rumo das conversas. Nós acertávamos isso antes de iniciar os trabalhos. Muitas vezes ela não conseguia sustentar.

Quando uma colega, loira e de olhos azuis e de infraestrutura econômico-financeira avantajada respondia que também sofrera preconceito na infância, tipo "alemoa batata", Cleni procurava meu olhar, talvez esperando minha intervenção. Algumas vezes concedi. Mas, eu queria que ELA avançasse. Por vezes, desviei os olhos e, então, a conversa morria pouco depois.

Embora eu reconheça a total necessidade de que hajam leis garantitórias para que as ações sejam legitimadas é comprovado que a ATITUDE deve mudar no interior de cada indivíduo. Branco não tem de "conceder" o que é de direito de todos. Negro tem o mesmo direito que branco. Digo isso e repito, mesmo sendo contestada. Do mesmo jeito que pobre não precisa de "favor" de rico. Pobre tem o mesmo direito e valor que rico. Para INTERNALIZAR isso no coração de TODOS é preciso que todos exercitem a devida ocupação deste espaço.

Quero destacar uma colocação que me bateu fundo, que a querida amiga colocou certa vez. A discussão era sobre uma psicóloga que havia sido indicada como estagiária e logo depois efetivada, por ter sido recomendada em uma federação.

"Minha filha negra e pobre, nunca terá este tipo de oportunidade!"

Verdade. O "QI - quem indica" ainda é amplamente utilizado em todos os segmentos e, com certeza, quem tem parcos recursos e o adicional da cor da pele negra, não tem conhecidos influentes, não terá a mesma chance.

Você discorda? Qual a cor do vinil que você passa na realidade?


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Do G1
24/05/2011 14h12 - Atualizado em 24/05/2011 22h03

Morre no Rio Abdias Nascimento, ativista do movimento negro

Ex-senador e ex-deputado faleceu aos 97 anos.
Ativista estava internado há dois meses.

Do G1 RJ

O ativista do movimento negro Abdias Nascimento morreu na noite de segunda-feira (23). A informação foi confirmada pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap) na tarde desta terça-feira (24).

Segundo Ivanir Santos, do conselho estratégico do Ceap, Abdias, de 97 anos, estava internado no Hospital dos Servidores, no Centro do Rio, há dois meses e sofria de diabetes.

De acordo com nota enviada pelo hospital, ele teve uma insuficiênica cardíaca na unidade. Ainda segundo o hospital, ele estava internado por complicações cardíacas desde o dia 15 de abril.
 

Ativista desde a década de 1930, Abdias fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN) em 1944 e criou o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros (Ipeafro) em 1981 para continuar sua luta pelos direitos do povo negro, sobretudo nas áreas da educação e da cultura.

Abdias também foi deputado federal, senador e secretário de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras do Estado do Rio de Janeiro, de 1991 a 1994.

Segundo o site do Ceap, o corpo de Abdias será velado na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, no Centro, a partir das 18h de quinta-feira (26). Ele será cremado na sexta-feira (27) na Santa Casa de Misericórdia, no Cajú, na Zona Portuária.

O Ceap divulgou uma nota no fim da tarde. Veja a íntegra:


"O Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP) manifesta seu profundo pesar pela morte do líder e companheiro Abdias do Nascimento, ocorrida ontem, 23 de maio, às 22:50h. Foi Abdias, para o Movimento Negro, uma lição de coragem, retidão caráter e perseverança em sua luta sem fronteiras de combate ao racismo e pela cultura afro-brasilera."
(...)

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Do Terra

ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL
Abdias: Se pudessem, colocavam o negro de novo na escravidão

Terra Magazine - O Senado aprovou ontem projeto de lei que institui o Estatuto da Igualdade Racial. O texto original sofreu alterações, como a retirada do trecho que previa cotas para negros na educação e a criação de uma política de saúde pública para negros. O que o senhor achou das mudanças?
Abdias do Nascimento - Uma coisa lamentável, porque se há uma população que necessita de um apoio específico em todos os sentidos, em todos os níveis das atividades nacionais são os negros. São os únicos que foram escravos. As pessoas falam que não precisa de uma proteção, mas ninguém foi escravo aqui, a não ser os africanos.

Então, na avaliação do senhor, as mudanças foram lamentáveis.
É claro. Lamentável, porque é uma injustiça a mais. Uma injustiça que se repete.

O relator do texto, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), substituiu o termo "raça" por "etnia", alegando que não existe outra raça além da humana.
Isso é aquela história brasileira de adoçar as coisas. Adoçam o racismo específico contra os africanos e descendentes. Isso mostra, mais uma vez, o gérmen... A alma do Brasil que manda é essa. É contra os africanos, contra os negros. Acho lamentável. Mostra que o Brasil continua o mesmo desde a escravidão. Mostra que, na verdade, ninguém queria que o negro fosse liberto. Mostra que, se pudessem, colocavam, outra vez, a escravidão.

O senhor ainda considera que a Abolição da Escravatura no Brasil não passa de uma mentira cívica e que ainda há um hiato entre negros e brancos no país?
É isso aí: uma mentira cívica. Uma "bela" mentira cívica. E ainda existe um hiato entre negros e brancos. Há dois "Brasis": um dos brancos e outro dos negros. Sem dúvida nenhuma.

O autor da proposta, senador Paulo Paim (PT-RS), afirmou que o estatuto está longe do ideal, mas que a aprovação foi uma vitória? O senhor concorda?
Não concordo, porque é a continuidade do racismo, da discriminação, do desprezo pela herança africana. Essas leis, esses disfarces para não chamar o Brasil de racista continuam. Desculpe, mas isso é odioso e, no meu entender, vai realçar a separação, a diferença e a possibilidade dos negros terem uma integração perfeita.

Especialmento sobre o trecho que fala das cotas, que foi suprimido do texto original. O que o senhor acha sobre isso?
As cotas são absolutamente importantes. São um passo adiante da degradação que o negro tem sofrido durante tantos séculos.
Link: http://ning.it/jihFHH
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Marise Jalowitzki
Compromisso Consciente



compromissoconsciente@gmail.com
Escritora, pós-graduação em RH pela FGV,
international speaker pelo IFTDO-EUA
Porto Alegre - RS - Brasil





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