terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O que dizem os pesquisadores – Saúde Pública - Contaminação das Águas pelo Necrochorume – Cemitérios e Tragédias -

O descaso que os restos mortais recebem em alguns cemitérios brasileiros é preocupante.
Pesquisadores de Universidades opinam sobre a contaminação por necrochorume

O que dizem os pesquisadores
Saúde Pública - Contaminação das Águas pelo Necrochorume – Cemitérios e Tragédias -
Parte 8/10


Por Marise Jalowitzki
22.fevereiro.2011

Para este artigo, apresento as declarações dos pesquisadores Lezíro Marques Silva, Patrícia Bilotta e Alberto Pacheco, atualmente considerados os que apresentaram estudos mais profundos sobre o tema. O que vem a seguir corrobora o que tenho publicado até agora. Com um passo ainda além, que é a ponderação da pesquisadora Patrícia Bilotta, que lança a pergunta: Quem se responsabiliza pelo controle e posterior descarte da manta impermeável, feita para conter o necrochorume? E para onde irá este material? Onde irá ser depositado?

Como vemos, a questão da manta é mais prática para o momento do sepultamento e mais econômica para os cemitérios, mas, e a médio e longo prazo?

Necrochorume - Covas rasas, como as efetuadas por ocasião da Tragédia no Rio,
trazem sérios riscos à contaminação das águas que abastecem a população
Desta forma, permanece a viabilização das tubulações e filtros biológicos como a opção mais saudável e, mais do que ela, a cremação.

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Cremação


Livro co-autoria Carlos Mello Garcia
 De acordo com o professor do doutorado de Gestão Am­­biental da Pontifícia Uni­versidade Católica do Paraná, Carlos Mello Garcia, o cuidado com o destino do necrochorume deve ser igual ao tratamento dado ao lixo industrial.

Para ele, a solução sanitária ideal seria cremar os corpos. Um corpo de 70 quilos gera em média 2,5 quilos de cinzas, que não são poluentes. Mas a prática ainda não é muito comum.

Ainda assim, fica o questionamento: as cinzas dos corpos que morreram com doenças infecto-contagiosas podem ser jogados ao vento, ou em lagos (como costuma acontecer), sem risco algum de poluição? A cremação isola completamente as bactérias e vírus? Perguntas ainda sem resposta.

Desta forma, segundo Gar­cia, a solução mais prática de adequação, atualmente, consiste em drenar o líquido por tubulação e tratá-lo antes de devolvê-lo à natureza.
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Para se ampliar o universo da cremação será preciso trabalhar crenças e costumes.

Eu mesma enfrento este problema com alguns de meus familiares (vivos) que não permitem a cremação de vários entes queridos, mortos há vários anos, pois consideram que isto é desrespeito e que um “enterro digno” é permanecer com os restos mortais em um túmulo, debaixo do solo...poluindo! Culto aos ossos!

Enfim, há que se ter muita persistência sempre que se pretende mudar hábitos arraigados. As pessoas acreditam em algumas coisas durante muito tempo e essas coisas vão se aliando a outras, até formar um sistema de vida. Mudar o olhar para uma coisa implica, necessariamente, em mudar para outra(s) também.

 Eis os pareceres dos pesquisadores:


Lezíro Marques -
Prof.da USJTadeu - SP - Pesquisador

 1- LEZÍRO MARQUES SILVA, professor e geólogo é pesquisador do assunto a 38 anos da Universidade São Judas Tadeu. Ex-técnico da CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) e um dos pioneiros a estudar – em âmbitos nacional e internacional - os impactos ambientais causados pela emanação de substâncias oriundas da decomposição do corpo humano.

“Todo cemitério é uma fonte potencial de poluição do subsolo”, declara o professor.
  
Lezíro e a equipe da qual faz parte, vem se dedicando a entender os malefícios que os cemitérios construídos sem prévio estudo do solo podem causar ao meio ambiente.

“Devemos ficar atentos para uma série de fatores para a construção de um cemitério: deve ser feito um estudo hidrogeoambiental da área em que ele será construído para verificar se o solo tem condição de decompor o cadáver, se há hipótese de poluição do lençol freático da região e ainda se não causará poluição aérea devido à emissão de gases”, alerta Lezíro Marques Silva.
O Código Sanitário dos Estados precisaram se adequar à Resolução 335 já que as normas que regulamentavam a construção e operação de cemitérios não eram suficientes para conter os poluentes.

Condições adequadas de Sepultamento
Segundo o Prof. Lezíro, a cremação do corpo humano é a maneira mais eficaz para eliminar todas as substâncias que poderiam contaminar o meio ambiente. No entanto, quando ocorre o sepultamento, algumas medidas devem ser tomadas para que não haja riscos de contaminação.

O ideal é conter (prender) o necrochorume dentro dos túmulos para a secagem, a fim de evitar a infiltração no solo e posteriormente no lençol freático.

Isso é conseguido com a implantação de lajes no fundo das sepulturas para que haja a contenção do líquido. Nos casos em que as condições geoambientais e de clima não são adequadas para decompor o corpo humano, pode ser feita a utilização de substâncias que propiciem e acelerem o processo de decomposição dos cadáveres e que neutralizam as substâncias emanadas por eles, tais como a manta absorvente e as pastilhas.

Os cemitérios são, potencialmente, empreendimentos de risco ambiental.


Patricia Bilotta - Prof. da PUC -
Curitiba/PR - Pesquisadora


2- PATRÍCIA BILOTTA, professora de Engenharia Ambiental da PUC e Doutora em Hidráulico e Saneamento, comenta: ”o perigo real da contaminação está nos orgânicos patogênicos encontrados no necrochorume”. O desgaste de materiais como objetos de roupas ou metais pesados em contato com o necrochorume teriam uma responsabilidade insignificante. 

A professora explica que dependendo das condições do solo e da água em certas situações “esse material [em decomposição] pode se acumular e causar um efeito potencializado”. Com a aprovação da lei e a impermeabilização das urnas, o solo e a água são poupados, mas isso dá margem a uma outra preocupação: qual seria o destino desse material impermeável e quem se responsabilizaria por isso?

Segundo Patrícia, depois de tratado, o líquido não vira adubo, mas “pode até ser lançado no solo que o próprio ambiente absorve e o devolve ao ciclo natural para a matéria prima do carbono”.


Alberto Pacheco - Prof.Dr. USP - Pesquisador

 3 – ALBERTO PACHECO – professor-doutor e pesquisador do Instituto de Geociências da USP – Universidade de São Paulo. 
O problema da contaminação do solo por cemitérios existe,  mas é pouco abordado na mídia. Talvez por isso se arrasta ao longo de tanto tempo, prejudicando diretamente os que não dispõem de informação e, indiretamente, toda a população que sofre com a proliferação de doenças infecto-contagiosas.
O pesquisador da USP, Prof. Dr. Alberto Pacheco, detectou bactérias e vírus capazes de transmitir várias doenças em amostras de água retiradas do solo do Cemitério Municipal Vila Nova Cachoeirinha  – Zona Norte de São Paulo.
Por força da fiscalização impulsionada pela resolução do CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente –, os cemitérios particulares vivem uma realidade bem diferente, e já desenvolvem mecanismos de proteção aos mananciais. Atentas ao impacto ambiental e de olho no mercado fúnebre ecologicamente correto, funerárias investem cada vez mais no desenvolvimento de soluções para a contaminação do solo e do lençol freático.
Alternativas viáveis que estão longe da realidade dos cemitérios públicos brasileiros.
Apesar das constantes campanhas e manifestações sociais e institucionais pró-meio ambiente, ainda há muito o que se fazer para proteger os recursos naturais.
Apesar de pouco divulgado, o problema é preocupante, já que 95% da água potável do mundo está no subsolo, segundo a Associação Brasileira de Águas Subterrâneas – ABAS.
Os dados levantam uma polêmica: o que fazer para evitar que o corpo humano contamine fontes preciosas de água subterrânea após a morte?
(As declarações do Prof. Pacheco foram editados na Revista Griffe) 
E-mail: apacheco@usp.br

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Em uma série de 10 tópicos, agrupei os temas mais relevantes, assim distribuídos:  


Parte 1 – Seremos adubo algum dia? Vamos cuidar das águas!  – Introdução - http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/seremos-adubo-algum-dia-vamos-cuidar.html
Parte 2 - O corpo humano e a liberação do necrochorume http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/o-corpo-humano-e-liberacao-do.html
Parte 3 – O que diz a Legislação sobre o tratamento de cadáveres

http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/o-que-diz-legislacao-sobre-o-tratamento.html
Parte 4 – Outras alternativas para tratar o necrochorume

http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/necrochorume-corre-ceu-aberto-em-alguns.html
Parte 5 – Como acontece a decomposição do corpo humano

http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/como-acontece-decomposicao-do-corpo.html
Parte 6 - Como a qualidade do solo influencia no tempo de decomposição do corpo humano

http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/como-qualidade-do-solo-influencia-no.html
Parte 7 - Como acontece o processo de contaminação do solo e de fontes d’água pelo necrochorume

http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/como-acontece-o-processo-de.html
Parte 8 - O que dizem os pesquisadores sobre as consequências do necrochorume

http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/o-que-dizem-os-pesquisadores-saude.html
Parte 9 – Impactos ambientais devido à liberação do necrochorume

http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/impactos-ambientais-contaminacao-das.html
Parte 10 - Doenças que podem ser contraídas pela população, devido ao sepultamento inadequado de cadáveres


Cemitério-parque São Pedro em Curitiba - poços de monitoramento e malha de drenagem com filtro biológico

Leia também: LINK: http://t.co/uYsGSWt

Só sirenes?  falta tudo! Necrochorume à mostra após a tragédia na região serrana do Rio

As fotos divulgadas nesta página foram enviadas por Cecília Valéria Oliveira da Silva, voluntária em Teresópolis, na tragédia do Rio - 2011

Região Serrana do Rio vai receber Sirenes de Alerta - Piada ou Tragédia?

Por Marise Jalowitzki e Cecília Valéria Oliveira da Silva
14.julho.2011
LINK: http://t.co/uYsGSWt

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