quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Impactos Ambientais - Contaminação das Águas - A Ameaça dos Mortos - Descaso das Prefeituras

Impactos ambientais devido ao necrochorume podem acontecer muito longe dos locais onde estão enterrados os corpos - Plumas de contaminação -

Impactos Ambientais
Necrochorume – Contaminação das Águas - Cemitérios Brasileiros -
Descaso das Prefeituras - 
Parte 9/10


Por Marise Jalowitzki
23.fevereiro.2011


Segundo Alberto Pacheco, pesquisador do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, os cemitérios são um risco potencial para o ambiente.

No Brasil, quase sempre, a implantação dos mesmos tem sido feita em terrenos de baixo valor imobiliário ou com condições geológicas, hidrogeológicas e geotécnicas inadequadas. Este cenário pode propiciar a ocorrência de impactos ambientais (alterações físicas, químicas e biológicas do meio onde está implantado o cemitério) e fenômenos conservadores, como a saponificação.

A saponificação, como vimos no artigo anterior, aparece em forma de plumas de contaminação e pode surgir quilômetros além do local onde os corpos estão enterrados, conduzidos por córregos e água da chuva. 


Verificação de contaminação das águas



Prevenir a contaminação através de processos de tratamento das águas é responsabilidade dos governos

Os impactos ambientais são mais frequentes nos cemitérios públicos, os quais, em geral, são implantados e operados de forma negligente.

De acordo com a tese desenvolvida pelo Prof. Dr. Bolivar Antunes Matos, do Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo) o maior problema dos cemitérios administrados pelos municípios, deve-se ao fato dos sepultamentos ocorrerem em covas rasas e diretamente no solo, sem qualquer tipo de proteção.

Os impactos ambientais são classificados em duas categorias:

O impacto físico primário - ocorre quando há contaminação das águas subterrâneas de menor profundidade (aquífero freático) e, excepcionalmente, das águas superficiais.

O impacto físico secundário - ocorre quando há presença de cheiros nauseabundos na área interna dos cemitérios provenientes da decomposição dos cadáveres.

Segundo os tanatólogos (estudiosos da morte), os gases funerários resultantes da putrefação dos cadáveres são o gás sulfídrico, os mercaptanos, o dióxido de carbono, o metano, o amoníaco e a fosfina. Os dois primeiros são os responsáveis pelos maus odores.

O vazamento destes gases para a atmosfera de forma intensa deve-se à má confecção e manutenção das sepulturas (covas simples) e dos jazigos (construções de alvenaria ou concreto, enterradas ou semi-enterradas).
  
A conservação (saponificação cadavérica) tem grande importância médico-legal e pericial, pelo fato da conservação do corpo permitir a identificação do mesmo pelos traços fisionômicos e pelas impressões datiloscópicas.

Entretanto, nos casos em que se espera o tempo legal prescrito (3 anos – 5 anos) para trocar de lugar os restos mortais, isso dificulta e trava a possibilidade. Além disso, não há legislação sobre o que fazer após os 5 anos, caso não dê para remover ou efetuar a exumação.

Pela Resolução CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) de 28 de maio de 2003, aprovada e assinada por Marina Silva, então Ministra do meio Ambiente, os cemitérios horizontais e verticais a serem implantados no Brasil precisam requerer licença ambiental para funcionarem.

A Resolução estabelece critérios mínimos que devem ser integralmente cumpridos na confecção dos projetos de implantação, como forma de garantir a decomposição normal do corpo e proteger as águas subterrâneas da infiltração do necrochorume.

Os cemitérios já existentes tiveram 180 dias após aquela data para se adequarem às exigências junto dos órgãos ambientais competentes. Poucos cemitérios atenderam à solicitação do CONAMA. O não cumprimento da Resolução implica em sanções penais e administrativas. Não há registro de nenhum cemitério penalizado até o momento.

Cemitérios antigos também precisam se adaptar às normas estabelecidas pelo CONAMA

Dentro de uma política ambiental que objetiva preservar o solo e os recursos hídricos superficiais e subterrâneos, as normas regulamentadoras para a proteção e preservação do ambiente urbano e a saúde pública e adoção de medidas de controle devem contemplar:

– Construção de poços de monitoramento do lençol de aquíferos freáticos), com objetivo de acompanhar a evolução hidroquímica do lençol freático local, verificando a ocorrência de contaminações ou poluições eventualmente super impostas pelo cemitério, obedecendo aos padrões de referência da Portaria n.º 36/GM do Ministério da Saúde (19/01/1993);

- Monitoramento hidrogeológico, através de poços de monitoramento, instalados em conformidade com a Legislação vigente (ABNT PNB 1.066.010)

- A cada trimestre o lençol freático deverá ser amostrado, de acordo com a portaria 36/GM, enfatizando as cadeias provenientes das exumações e outros; deverão ter o mesmo tratamento dado aos resíduos sólidos gerados pelos
serviços de saúde, de acordo com a legislação vigente (resolução n.º 5 do Conama de 1993).

- Deverão ser retirados por empresa especializada no manejo de resíduos de serviços de saúde, para serem cremados ou encaminhados ao aterro sanitário,
todos os resíduos sólidos gerados pela operação do cemitério como: papéis, luvas, flores, adereços, etc.
Os resíduos de incineração (cinzas) serão encaminhados para disposição em aterros sanitários.
O sistema de impermeabilização das sepulturas para a entumulação  - caixas de alvenaria fechadas, impermeabilizadas com mantas de polietileno ou com impermeabilizantes eficientes utilizados na construção civil. São materiais não biodegradáveis e, em algum tempo, terão de ser administrados pelos responsáveis pelos cemitérios.

Tragédia no Rio
Os corpos que foram retirados dos escombros por ocasião dos deslizamentos ocorridos no Rio de Janeiro (o último em janeiro de 2011), foram todos enterrados em covas rasas, corpos diretamente colocados nos caixões. O risco que a população corre de receber água contaminada é grande. Ainda mais havendo as centenas e centenas de corpos que jazem sob os escombros e que nunca serão achados.


Deslizamentos em Angra dos Reis, em 2010 - Situação de risco, deslizamentos e soterramentos. População recebe água potável? As verificações trimestrais estão acontecendo?


É constante a preocupação com o futuro da água potável no mundo e muito se fala sobre a economia e a preservação das fontes e recursos hídricos, cada vez mais escassos na humanidade. Rios, lagos e nascentes são o foco das discussões sobre a conservação do meio ambiente. Mas há outra importante fonte ameaçada: o lençol freático, responsável por 95% da água consumida no planeta.

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Campo Mourão-PR

Comentário recebido:

UM CEMITÉRIO INCOMODA MUITA GENTE...
Detalhes do Parque Cemitério Angelus, que o Prever pretende construir em frente ao jardim Cidade Nova. Repare que tem até um chafariz! Os moradores não querem de jeito nenhum, mas a empresa tem esperanças de que, conhecendo o projeto, a maioria da população mude de idéia. Um dos argumentos é que se os enterros começaram pelo lado oposto ao bairro, os túmulos mais próximos às casas só serão “ocupados” daqui a 15 anos. E isso se todo mourãoense que morrer for enterrado lá. Além do mais, as sepulturas ficarão a pelo menos 50 metros das residências. Ah, e fantasma nem perna tem... 

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Em GUARULHOS - SP, vereadora "compra a briga"
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
http://www.encontraguarulhos.com.br/noticias/page/8/

Contaminação de solo ameaça áreas próximas a cemitérios de Guarulhos

Os moradores vizinhos dos cemitérios da Vila Rio, Primaveras I e II, em Guarulhos, correm riscos de serem contagiados por doenças causadas pela contaminação do lençol freático da região, do solo e até por gases tóxicos. É o que afirma um estudo elaborado pela advogada Cristiane Barrio Novo, em uma tese de mestrado.

De acordo com o levantamento, um líquido proveniente da decomposição dos corpos sepultados, denominado necro-chorume, poderia contaminar o solo e, consequentemente, atingir o lençol freático com suas toxinas.

Isto se daria pelo fato das sepulturas destes cemitérios, principalmente o da Vila Rio, estarem em desconformidade com uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que especifica distâncias e profundidade em relação ao lençol freático.

Segundo o geólogo e pesquisador Leziro Marques Silva, da Universidade São Judas Tadeu, de 600 cemitérios pesquisados no País, cerca de 15 a 20% apresentam contaminação do subsolo pelo necro-chorume. E destes, 60% dos casos foram observados em cemitérios municipais.

O apontamento gerou preocupação e chamou a atenção da vereadora Luiza Cordeiro (PCdoB), que já resultou no projeto de lei n° 323/2010 sobre a “eliminação das contaminações dos lençóis freáticos e solo nos cemitérios de Guarulhos”.

A parlamentar já planeja organizar um seminário com a autora do trabalho para esclarecer dúvidas e dar entrada no projeto na Câmara Municipal. “Existem doenças degenerativas e infecciosas quando a água proveniente da terra se mistura com a água das chuvas e atinge o lençol freático”, completa Luiza.

Segundo a autora do estudo, o necrochorume é altamente tóxico e pode ser o condutor de uma epidemia. “Este líquido carrega todas as doenças que a pessoa teve enquanto viva. Quando atinge o lençol freático, afeta muitas populações, principalmente os vizinhos do cemitério. A contaminação pode causar graves doenças." - denuncia Cristiane.

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São Paulo - A AMEAÇA DOS MORTOS

Em São Paulo (capital), existem 14 cemitérios particulares e 23 públicos. Destes, 75% apresentam algum tipo de problema ambiental ou sanitário.

A situação mais alarmante registrada em SP é a que consta do livro A AMEAÇA DOS MORTOS, onde, no 1º capítulo, está detalhado o filme de horror a que a população do entorno do Cemitério Municipal de Vila Nova Cachoeirinha está sujeito. Exemplo caótico do descaso da prefeitura para com a população pobre. Segue, em artigo próximo, inclusive, indicações de como adquirir a obra:

Descaso das prefeituras - Valas comuns expostas propiciam o roubo de ossos, especialmente crâneos, para utilização em rituais de magia negra


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Em uma série de 10 tópicos, agrupei os temas mais relevantes, assim distribuídos:  



Parte 1 – Seremos adubo algum dia? Vamos cuidar das águas!  – Introdução - http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/seremos-adubo-algum-dia-vamos-cuidar.html
Parte 2 - O corpo humano e a liberação do necrochorume
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/o-corpo-humano-e-liberacao-do.html
Parte 3 – O que diz a Legislação sobre o tratamento de cadáveres
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/o-que-diz-legislacao-sobre-o-tratamento.html
Parte 4 – Outras alternativas para tratar o necrochorume
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/necrochorume-corre-ceu-aberto-em-alguns.html
Parte 5 – Como acontece a decomposição do corpo humano
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/como-acontece-decomposicao-do-corpo.html
Parte 6 - Como a qualidade do solo influencia no tempo de decomposição do corpo humano
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/como-qualidade-do-solo-influencia-no.html
Parte 7 - Como acontece o processo de contaminação do solo e de fontes d’água pelo necrochorume
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/como-acontece-o-processo-de.html
Parte 8 - O que dizem os pesquisadores sobre as consequências do necrochorume
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/o-que-dizem-os-pesquisadores-saude.html

Parte 9 – Impactos ambientais devido à liberação do necrochorume
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/impactos-ambientais-contaminacao-das.html
Parte 10 - Doenças que podem ser contraídas pela população, devido ao sepultamento inadequado de cadáveres
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2011/02/doencas-que-podem-ser-contraidas-pela.html


Água pura - Direito de Todos!

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Leia também: LINK: http://t.co/uYsGSWt
Só sirenes?  falta tudo! Necrochorume à mostra após a tragédia na região serrana do Rio

As fotos divulgadas nesta página foram enviadas por Cecília Valéria Oliveira da Silva, voluntária em Teresópolis, na tragédia do Rio - 2011

Região Serrana do Rio vai receber Sirenes de Alerta - Piada ou Tragédia?

Por Marise Jalowitzki e Cecília Valéria Oliveira da Silva
14.julho.2011
LINK: http://t.co/uYsGSWt

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Leia também:

Unaí - Minas Gerais - Primeiro Projeto Brasileiro para Transformar o Lixo em Energia, aproveita até mesmo o chorume
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Marise Jalowitzki
Compromisso Consciente



compromissoconsciente@gmail.com
Escritora, pós-graduação em RH pela FGV,
international speaker pelo IFTDO-EUA

Porto Alegre - RS - Brasil



8 comentários:

  1. Boa tarde! gostaria de saber qual o tempo médio estimado em que os corpos permanecem liberando o necrochorume! está dificil de encontrar esta informação.

    Adriano Corbellini.

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  2. Oi, Adriano! Pelo que li, repasso:
    Os dois primeiros anos são os mais intensos, mas o tempo, quem determina, é o tipo de solo e a temperatura e o nível de contaminação, também.
    Depende da qualidade do solo ser mais ou menos argiloso, do índice de chuvas e o declive.
    Quando os solos são muito úmidos e quentes, a liberação pode seguir por muitos e muitos anos, pois a decomposição é mais demorada.
    Dependendo das doenças, o perigo é intenso, pois os contágios continuam.
    Você imagina um corpo sujeito à saponificação intensa. Pode levar séculos!

    Abs

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  3. Boa noite Marise. Parabéns pelas sua informações, elas são esclarecedoras e vêm de encontro ao que procurava. Eu li todos os seus artigos, e posso afirmar que eles completaram as informações que já tinha, e mais, enriqueceram minha pesquisa. Sou de Bauru/SP, cidade paulista, que tenho a intenção de auxiliar nesta temática, a fim de evitar este mal silencioso que a todos assola, e que poucos se interessam. Farei uso de seus ensinamentos, e farei algumas citações suas, de seus trabalhos, se assim permitir. Marise, concordo com você que o poder público deveria encampar esta ideia, de forma a exigir o cumprimento da legislação vigente, impondo sansões, financeiras se for o caso, por que infelizmente só assim o brasileiro passa a escutar àquilo que pode salvar sua própria vida, e de seus entes. Absurdo isto não é? O Estado (federal, estadual e municipal), como um todo, através de seus administradores, especialmente aqueles responsáveis pela administração direta dos cemitérios, devem acelerar o cumprimento destas normas, ou eles acham que são imunes aos problemas gerados pelo necrochorume????? Novamente PARABÉNS. Abraços.

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    1. Concordamos em tudo, Ernani! Esta temática de tempos em tempos é abordada, sem que haja uma efetiva ação. Pelo que tenho acompanhado, somente os novos cemitérios (particulares) é que estão sujeitos à legislação e, mesmo esses, após liberados, não recebem a devida fiscalização (falha, como em todos os campos, em nosso país).
      O maior cemitério parque que temos aqui em Porto Alegre fica no alto de um morro! Quem liberou? Ainda que haja controle (manta, filtro) sempre haverá um percentual que necrochorume que se perde, desce pelo morro, infiltra-se no lençol freático. E a água da comunidade do entorno e além?
      Fica bem à vontade para utilizar o conteúdo e BOA SORTE em teu trabalho.
      Vai informando à medida que obtiver alguns resultados concretos que publico aqui.
      A mudança depende da atitude individual!
      Felicidades e um abraço!
      Marise

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  4. Ola Marise !eu estou cursando tecnico em Meio Ambiente e procurando informações sobre necrochorume vc poderia me ajudar dando-me informações como encontrar esta material?enfim tudo o que vc poder me orientar eu agradeço-lhe.Boa noite e parabéns!

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    1. esteja à vontade para usar os 10 artigos que formatam esta série. Sucesso em teu trabalho. O tema é importante e carece de mais atenção e cuidados! Abs

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    2. em muitos dos artigos constam as fontes onde pesquisei. Gratidão.

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