sábado, 18 de dezembro de 2010

MC Ferrow e MC Deu Mal no Complexo do Alemão - mau gosto


MC Ferrow e MC Deu Mal no Complexo do Alemão - mau gosto

Por Marise Jalowitzki
17.dezembro.2010
http://compromissoconsciente.blogspot.com/2010/12/mc-ferrow-e-mc-deu-mal-no-complexo-do.html

Pois é, Casseta e Planeta é um programa que gosto de assistir. Não sempre, pois por vezes beira o grotesco. Aí é só um clic que nos separa. Mas, eles são engraçados, lidam com figuras de destaque no cenário das "celebridades", incluindo governos. Paródias , analogias perfeitas, ironia muitas vezes inteligente.

Mas, como não é só de elogios que se vive a vida, também quero registrar o mau gosto dos cassetas nesta última terça-feira, quando veio ao ar o Programa com o quadro de MC Ferrow e MC Deu Mal. Eles fizeram uma gravação em favela do Rio de Janeiro (será que foi, mesmo, no Complexo do Alemão?), agora, após a fuga dos traficantes e da ocupação pela polícia que, em caráter permanente, guarnece a população de lá.

Foram lá para zoar os traficantes foragidos ou presos, que dominaram a favela até há bem pouco tempo.


Observei as carinhas das crianças e adolescentes que assistiam ao "show" dos cassetas "fantasiados" de favelados, personagens que "encarnam" há anos! Um deles dentuço (claro que favelado da gema vai ter dificuldade em adquirir um aparelho corretivo para sua arcada dentária), cabelos desgrenhados e pintados de amarelo.Também na vida real, em um mundo que enaltece tanto os "loiros" e despreza os negros, muitos negros, marrons ou pardos procuram pintar o cabelo de louro como uma forma de "minimizar" sua negritude.


Embora sejamos a maioria afro-descendentes no Brasil e, hipocritamente, todos declarar que "não somos preconceituosos", quero ver alguém, lá no fundinho de seu coração, dizer que não faz discriminação étnica. Sim, pois discriminação racial é um termo absurdo. Somos raça humana, uma só. Diferentes etnias é que conferem diferença de traços fisionômicos e coloração epidérmica.


Aquelas crianças e adolescentes que assistiam a encenação, não vibraram, não cantaram junto, não dançaram, apesar do ritmo e do gingado dos dois atores. O final do quadro foi filmado com outro grupo, em outro momento, onde todos ensaiadamente, sorriam.

Por que as crianças não sorriam? Alguém parou para pensar no motivo do desconforto com a presença dos cassetas zoando com os foragidos? Estamos diante de uma situação caótica, de um quadro perturbador de desassossego social. Aquelas crianças, na maioria, são filhos ou parentes dos foragidos e presos, agora separados sabe-se de que forma e por quanto tempo.

Alguém parou para pensar em como eles estão percebendo tudo o que aconteceu? Em como eles estarão se sentindo? Que efeito a ruptura com a realidade em que viviam fez em seu modus vivendi? Acreditam, por acaso, que eles não desenvolvem afeto pelos seus? O tráfico impede que hajam sentimentos envolvidos? Seria displicência nossa pensar que aquelas pessoas, todas elas, não desenvolvem afeto e laços familiares.

Creio que o momento é delicado demais para zoar com a situação. Repito o que tenho afirmado muitas vezes: somos nós os responsáveis por este estado de coisas. Somos nós os responsáveis por aquelas pessoas viver em situação de risco, já nascendo em um mundo com tão poucos horizontes. Nós, que, com nosso temor e acomodação, nunca dissemos o que pensamos, votamos em quem não queremos só por medo de dizer um não e silenciamos quando alguma impressão menos feliz nos pega.

Muito, muito ruim simplesmente dividir o mundo em duas metades: a do bem e a do mal. Quem, neste mundo caótico, triste e conturbado pode afirmar que é "totalmente do bem" e ditar quem "é do mal"? Simples assim?!

Nunca fui a favor de fazer piada em cima de fatos assim discrepantes, um verdadeiro flagelo social.


"Eu sou MC Ferrow!
Eu sou MC Deu Mal!

(...)
Pamonha é bom pro figo
Pamonha é bom pro umbigo
Pamonha é bom pro estrombo
E também pro popozão!

Ão, ão, ão e também pro popozão!"



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